Gosto das manhãs quando ainda tudo é
novo, ainda tudo cheira a começo, a único, quando os sons ainda são de ténues silêncios,
quando o tempo ainda não se mede em horas mas em vagas de azul. E mesmo no mês
mais quente, no dia mais escaldante, a manhã tem sempre gotas de água
humedecendo os extensos prados onde dentro em breve os rebanhos vão pastar.
Apetece caminhar descalça e refrescar os pés naquela contrastante humidade,
apetece abraçar cada árvore e retirar desse abraço a ternura de natureza tão
generosa de cores e de perfumes.
Depois há uma parte do dia em que tudo
parece parar, convida-nos a embalar os sentidos, a procurar refúgios para que
os sonhos possam abrir as asas e voar. Nem os pássaros se atrevem a sair do
ninho, nem os coelhos da toca, está calor, demasiado calor nas terras
alentejanas, nem viva alma se vê, nem um silvo se ouve.
Quando a orla da tarde desenha uma
sombra na alvura da paredes caiadas. O corpo oferece à dolência um instante de
abandono. Porque o caminho de tão quente faz transpirar o alcatrão. Respira-se
devagar, um ar que abafa os pulmões. Só os olhos ainda se agitam, ávidos de
paisagem, como quem quer beber toda a beleza daquele extenso oásis.
Por fim a noite já se avizinha, vem sem pressa de
chegar, não quis ser trazida pelo vento, preferiu a leve brisa que desliza no
tempo devagar, para apreciar a viagem. Para
chegar, naquela hora “dos mágicos cansaços” quando o sol já desfalece em
admiração na orla do horizonte, quando quase esmorecendo encontra um último
fôlego para deixar na linha do espaço um leve beijo com que recebe a serenidade
da noite enquanto o dia já parte no ocaso da vida.
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