Por
vezes somos como navios a navegar pelos mares da vida. Lutando contra os
vendavais, rasgando as velas, partindo a quilha, perdendo o leme. Seguimos um
rumo sem rumo como se fossemos despojos da cada uma das nossas batalhas. Ofuscam-nos,
seduzem-nos aqueles barcos, de proa erguida. Vaidosos iates, imponentes
veleiros. Parecem tão sólidos na sua majestosa fortaleza, na sua imagem de
grandeza.
Mas
também o era o Titanic e afundou-se. Dizem os sussurros da cobiça que se afogou
na sua presunção, sucumbiu na sua ostentação.
Ergo
os remos, sem fazer juízos, afinal, todos navegamos nas mesmas águas. Que nos
embalam ou que nos afundam. Revelando a vulnerabilidade do nosso existir.
Que
importa a dimensão, se é navio, bote ou apenas uma periclitante jangada, se
todos os corações são de tamanho igual? Resta saber se guardam a fiabilidade de
um mesmo sentir.
Que
importa a imagem de magnificência, o fausto que nos pode inebriar, se lá dentro
for minúscula a capacidade de se dar aos outros em generosidade e tolerância.
Deixemos-nos
de sonhos, estendamos redes de amizade por esse vasto oceano para lhe pacificar
as águas e curar as mágoas.
Deixemos-nos
de arrogâncias e snobismos que não tornam o caminho mais fácil de ser navegado.
Por vezes é preciso parar, lançar âncora num cais que há tanto nos espera
depois de nos ter visto partir para as nossas sempre efémeras viagens.
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