No
calendário os dias sucedem-se constantes, terminam as férias e de repente num
aparente salto cósmico já visualizamos o mês de Dezembro, a chuva, o frio, mas
também a lareira ou o cobertor que nos conforta como se fosse um amigo sempre
disponível.
Mas Dezembro tem mais, muito mais do que isso, tem
aniversários, o pagamento do seguro do
carro, o subsídio de Natal (ou talvez não) e claro o Natal e Final de Ano. Mas
falemos do Natal, já nos imagino a contorcer num desconforto que não
sabemos ou não queremos explicar.
Por outro lado encontro nas crianças uma
reacção completamente oposta. Um sorriso radioso, um novo brilho no olhar e em
saltinhos irrequietos lá vai perguntando, “o que me vais dar no Natal?"
“Compras-me aquele brinquedo que vi na televisão?”. A sua felicidade magoa-nos,
por mais que nos queiramos esquecer e afastar deste momento a sombra da
“crise”, não conseguimos, ela espreita-nos em cada canto da nossa vida, no
emprego cada vez mais precário, nos direitos que nos são sonegados, nas
obrigações que nos exigem, mas também nos magoa não conseguirmos corresponder
às expectativas daquele pequeno ser que deposita em nós a confiança de um Natal
repleto de sonhos concretizados.
Os
dias encurtam a distância e o calendário já não nos oferece a surpresa diária
que recebíamos quando abríamos o quadradinho e descobríamos nele um pequeno
chocolate, prelúdio de uma festa que se anunciava feliz. Agora cada dia
perscrutamos no túnel que se adensa uma solução que não nos surge e no entanto,
quando o peito se aquieta, podemos descortinar lá bem no fundo uma pequena luz.
Então começamos a perceber que o Natal se sobrepõe ao sentido material que lhe
conferimos. Que o Natal é sobretudo um estado de espírito, que Natal significa
nascimento e que em nós devia significar renascimento da esperança.
Porque o
Natal deve ser vivido no coração e repartido em amor por todos à nossa volta.
Afinal o amor não custa dinheiro, os abraços são grátis, a alegria não paga
imposto e a amizade presente vale mais que uma ausência repleta de presentes.
Então
sento-me no chão da sala e se neste Natal não existirem brinquedos novos, vamos
brincar juntos com os velhos, criando com eles novas histórias.
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