Ainda
me lembro de te ver no rosto liso, um olhar terno, um sorriso luminoso
emoldurado por uns cabelos negros que dançavam permanentemente ao vento, mesmo
quando não havia vento. Surpreendia-me sempre esse esvoaçar.
Então imaginava
que não caminhavas, que flutuavas com
rapidez, essa rapidez que te impunhas para generosamente responder aos
meus apelos infantis.
O
tempo passou e eu nem percebi, por isso não me lembro quando os teus cabelos
começaram a ficar raiados de branco, de imediato imaginei que eram pipocas a
saltar em cada fio. E de repente, como que num passo de magia, todos os teus
cabelos ficaram brancos como se um manto de neve os cobrisse.
Estremeci,
assustei-me com aquela imagem, mas o teu rosto que já não é liso revelou-me o
mesmo sorriso, o mesmo olhar terno e ofereceu-me aquele abraço quente que
reconheceria único no meio de muitos outros.
Com o peito inquieto perguntei,
pintaste os cabelos? Com voz cantante na memória dos meus embalos, respondeste,
“Não os “pintei”, pintou-mos a dor”.
Então
chorei baixinho e de imediato, amei-os.
Sem comentários:
Enviar um comentário