Sou
dessas terras áridas pelo abraço quente do sol. Onde a alma se desvanece
ofuscada pela visão da charneca florida. E o coração ardente, palpitante desse
calor, derrama-se sobre o trigo dourado de tão vastas planícies.
É
daí que eu venho, desse silêncio que perpassa o horizonte. Reino de todos os
pássaros que entoa uma suave melodia. Uma canção, pensa quem ouve, mas que não
é canção mas um chamado, uma resposta que nunca chega para lhe retribuir o eco.
O sino entra na pequena sinfonia e
completa o acorde ao compasso das horas. Porque aqui, o tempo tem um ritmo
certo. O galo cumprimenta o dia e a manhã espreguiça-se ao levantar-se devagar.
A natureza segue o seu pendor de rio com uma amena corrente, não tem pressa,
sabe que há-se sempre chegar, lá, onde outras águas se enlaçam num mesmo e
terno abraço.
Foi
aqui que aprendi a escutar o coração da terra, a conhecer a sua cadência. Foi
aqui que aprendi a estender o olhar. Porque não há limites no horizonte e a
terra é um espaço longínquo que toca ao de leve o infinito.
Foi
aqui que aprendi a apreciar o belo e o divino, do lugar que me fez ser o que
sou, caminho que se faz caminhando, cruzando realidades, partilhando vidas,
crescendo, aprendendo a ser humilde e pequena para merecer a frescura do
escasso arvoredo. E se parti, ali fiquei transportando o calor dessas terras
sem sombra.
Ler serenamente, porque serena é a sua escrita. Recusando-se a ser crítica, prefere iluminar caminhos, dirigir olhares benevolentes e ternos sobre um mundo que não é perfeito, mas é o nosso. Um grande abraço, Antero
ResponderEliminarSenti vontade de sair, de mergulhar nessas planícies e esquecer a rotina das cidades de betão. São muito práticas, admiro-as por isso, mas tenho necessidade de arejar os pulmões e perder o olhar no infinito. Alberto F.
ResponderEliminarObrigada por este pequeno momento em que nos levaste nas asas da tua inspiração, para essas terras que mesmo não tendo sombras são portadoras duma beleza imensa. Beijocas, C.
ResponderEliminarQuem escreve assim, tem certamente muito mais no peito para oferecer. Quem escreve assim, tem de ser especial, tem de amar, a vida, a natureza e a humanidade ou pelo menos algum elemento singular dela. Quem escreve assim, nunca deve parar de escrever.
ResponderEliminarSentei-me na soleira da porta, ouvi o galo a anunciar o dia. O sino soou as horas e os pardais pousaram no meu umbral. Foi assim que vislumbrei e saboreei esta viagem pelo seu Alentejo. Um grande beijo, Adelaide
ResponderEliminarSe soubesse escrever como tu escrevia sobre a minha terra. Mas não tenho jeito nem arte. Por isso vou lendo avidamente o que escreves e encontrando aqui, a beleza serena do que és.
ResponderEliminarQue descrição tão intensa, tão bem escrita nos detalhes que basta ler e depois fechar os olhos para nos sentir-mos transportados para essa charneca em flor. Já o declamava Florbela Espanca, quando essas terras sem sombras que ardiam no coração. Beijos, Filomena
ResponderEliminarTerras sem sombras. Suponho que fales do Alentejo. Hoje bem me sinto assim, em busca dum chaparro, duma Oliveira ou de um rio para refrescar os pensamentos. Bjs, Amália
ResponderEliminarQue posso dizer? Adorei. Escreve mais, muito mais. Gosto muito de receber matinalmente e de sentir a tua agradável e inspiradora companhia. Leonor
ResponderEliminarUm pequena maravilha é o que me apraz dizer deste texto. Ou melhor deste quadro, tão visivel na sua leitura. Beijos, MJ
ResponderEliminarTambém sinto o Alentejo assim, quente, dolente, linda.Tal como a tua escrita. Talvez te esteja nos genes a inspiração que vem dessas terras sem sombra. Mtos bjs. L
ResponderEliminarUm quadro pintado com palavras que deixam ouvir a sinfonia da terra, sentir os aromas que andam no ar e deliciar os olhos com a luz e as cores que se avistam e perdem no horizonte. Perante esta paisagem de arte, sensibilidade e emoção, a sabedoria manifesta-se em humildade e, assim, torna-se grandeza a transbordar em cada palavra, cada linha e cada ideia.
ResponderEliminarObrigada por este texto magnífico!
Dizer que gostei é pouco. Um texto assim não precisa de palavras, mas de aplausos. Como não os posso enviar sonoramente, deixo aqui os meus parabéns por escreveres assim.
ResponderEliminarAdequado ao dia de hoje. Onde também aqui as terras parecem não ter sombras para nos refrescar.
ResponderEliminarQue quadro lindo. Quente como o teu olhar. Beijos. Mário
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