Gosto
de te ler, não só pelo que escreves, mas sobretudo por te encontrar presente em
cada frase. Em cada expressão, onde te despes dos preconceitos e das
banalidades e nos revelas traços bem delineados da tua alma. Aqui e ali,
atiras-nos pequenas achas da fogueira em que arde o teu coração e que queima o
meu com argumentos que me deixam anelante duma continuação, e esta, surge de
imediato no virar de cada página. Então deixo-me navegar por esse rio que
anuncia o mar num derradeiro encontro. É um momento de paz, há tanto desejado nessa
completude de vidas que desejam um futuro perene.
Fecho
o livro porque o rubor já me invade o rosto e os olhos ameaçam juntar à tua a
minha corrente de lágrimas, não, não é de tristeza, garanto-te, enquanto te aperto nos braços com receio que
as tuas palavras queiram fugir das páginas, são lágrimas de alegria, de
harmonia, de consonância, por tudo aquilo que dizes. Como se falasses de mim
ou, quem sabe, arrisco o impossível, para mim. E mesmo quando já te despedes,
sei que ficarás, na estante da minha sala, aconchegando-me o olhar,
reconciliando-me com a sucessão dos dias.
Dizem
que já não vais voltar a escrever, que estás senil. Então idolatro a tua ‘loucura’,
essa loucura que me fez permanecer prisioneira da tua obra, condenada a
admirar-te para a eternidade, a tua eternidade, porque a minha, é demasiado
finita para caber nela toda a minha veneração.
Consolo-me
ao adivinhar a continuidade que alcançarás, por todos os 100 anos que
conhecerás, não de solidão, mas de encontros com muitos e muitos corações que
vão elevar-se nas asas da tua escrita ao lerem-te e relerem-te para a cada momento
te reencontrarem.
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