Levo
o inverno a sonhar com o verão, com mergulhos no mar, com a pele despida de
toneladas de roupa. Porque já me cansei da lareira que não chega a aquecer a
alma. De músicas que não já não me aquecem o coração. Nem o chocolate quente,
nem mesmo o café fumegante me convence do seu milagroso remédio para escaldar
os dias de invernosa solidão. E não me venham falar de encantos outonais, da
beleza das folhas caídas. Da chuva a deslizar na janela, a correr pelos rios, a
formar cascatas e a inundar os mares. Quando ela vem carregada de vento e de
água e me molha até aos ossos, quando forma poças que os carros transformam em
duches literalmente de água gelada e
pouco limpa.
Convenhamos,
onde está o romantismo livresco de tudo isto?
Só
na expetativa, no sonho do verão, da luz solar que inunda o dia e entra pela
noite adiando-a a cada minuto. Nas caipirinhas, caipiroscas, ou mais na moda os
mojitos, (para mim, sem álcool, por favor!). Então o calor responde ao meu
apelo, vem cheio de fulgor, feliz pela chamada. Tão imponente no seu poder que
me deixa, (derretida) e sem capacidade de argumentação. Adoro um bom verão, caliente. Cheio de risos, de cabelos ao
vento, de passeios de bicicleta, de piqueniques à sombra, de gatos invasores, até das formigas devoradoras. Da fruta fresca
da época, dos gelados, dos passeios matinais, das férias com ou sem subsídio,
do reencontro de amigos. Mas tudo dentro dos temperados 25º, 26º, cedo até aos
28º, afinal é verão, mas mais que isso já começo a desesperar, sobretudo se
todas as sombras estiverem ocupadas, se tiver que ir para uma fila para comprar
uma garrafa de água, se o ar condicionado avariar, se a casa estiver um forno,
se me invadirem as alergias, se me atacarem os insetos, se, se...
Já
começo a ter saudades do inverno, das suas consequências, quais? Neste momento
em que tenho tanto calor, todas elas me parecem um paraíso, chuva, frio, vento,
o que não daria por um pouco desta tempestuosa mistura.
No
fundo, tudo isto é um estado de espirito. Quando estamos bem, tudo está bem,
tudo corre pelo melhor.
Porque
não há frio que congele a simpatia, nem calor que derreta a generosidade.
E
esteja onde estiver, faça o tempo que fizer, devemos sempre aproveitar o melhor
de cada momento.