Então enche-se-me o peito de alegria, porque
ele está cheio de saudades, do tempo já ido, do tempo presente e daquele que
espero um dia conhecer e transformar em memória que me preencha e me dê vontade
de chegar mais além. Porque o horizonte já me chama, porque o amanhã já me
reclama. E eu sem pressa, sorrio ao tempo, sim já tive pressa.
Pressa de construir a perfeição, de realizar
sonhos mesmo antes de os sonhar. Queria porque queria, ser feliz; queria porque
queria este, aquele e o outro amor, não, não era por leviandade, mas pelo
desejo fugidio de viver num só instante a eternidade de todo o existir.
Era a juventude, essa juventude que não se
contabiliza em anos mas em palpitações, em deslumbramentos do coração. Ou
talvez porque já ao longe adivinhasse que a velocidade da esperança abrandaria,
que a sede de infinito caberia um dia na palma da minha mão e não se perderia
mais por horizontes do olhar.
Digo-o sem melancolia, sinto-o sem pesar,
vivo-o sem amargura, porque tudo se transformou em suave ternura. Por vezes
ponho a mão sobre o peito, como que acariciando o coração, falo com ele das
nossas aventuras e desventuras, ainda não velho, talvez apenas um pouco
desgastado, descompassado.
Já não voamos cortando o vento, rompendo as
nuvens, brincado com os raios solares. Hoje, planamos, saboreando as correntes
de ar quente e pairamos sobre o luar. A vida, essa, tornou-se-nos um jardim de
flores que colhemos com a similar delicadeza com que a natureza a faz desabrochar.
Um certo ar outonal, que ainda tem sorrisos
primaveris, espreitando irreverentes, pelos cantos furtivos do olhar. Cada
instante da vida é único, porque, irrepetível e feliz, torna-se o melhor, deste
agora que é, totalmente nosso.
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