
Ainda
escrevo com a caneta, fiel companheira de sorte e infortúnio, como posso,
sequer pensar em a substituir pelo matraquear de uma teclas gélidas e
insensíveis, falta-lhes o traço de adorno, o estilo quase desenhado e encadeado
de letras, palavras e frases. Mais do que o conteúdo, a mensagem, a pintura, o
risco transformado em formas, contornos, olhos que nos olham, bocas que nos
beijam, braços que nos confortam, lágrimas e sorrisos, quiçá uma gargalhada, ou
porventura, um terno e misterioso, suspiro… quando se vira a página e se
conclui que está tudo dito.
Porque
só a caneta nos oferece generosamente o seu silêncio, um silêncio tão repleto
de murmúrios que só um coração atento e delicado consegue escutar e receber
deixando que nesse espaço de conforto e reconhecimento pare e se recomponha do
cansaço dos dias vazios de essência vital. Dias que nos enchem de coisas, de
sons desarmoniosos, de conversas que nos colhem os últimas sementes de
esperança em poentes de maresia para os transformar em nuvens cinzentas de um
fumo civilizacional, numa força volátil desta adrenalina sedentária e asas que
se abrem encetando um voo mas que sem força anímica permanecem no chão sem
energia para voarem, para sonharem e acreditarem nesse sonho transformando-o em
realidade.
Ainda
escrevo com a caneta, porque só ela me liberta dos grilhões da gravidade
atmosférica e me permite voar em busca, não deste, mas de todos os horizontes
que não conhecem fronteiras nem muros de pedra e de medo.
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