Às
vezes tem-se dores grandes, tão grandes que o nosso instinto de sobrevivência,
a nossa capacidade de nos suplantar as torna pequenas, menores que nós. Então
suportamos-las, superamos-las, vencemos-las e seguimos em frente, sentindo que
somos heróis da nossa vida. Não da nossa história, porque também aqui somos
grandes na humildade, na modéstia com que sentimos e declaramos-nos apenas
humanos.
Às
vezes tem-se dores pequenas, tão pequenas que nos dominam, afligem, corroem,
minam-nos o corpo, a alma. Sem sabermos como, deixamos que se apoderem de nós,
que nos vençam, tornam-se, nós, em pensamento, em existência.
Os
amigos aconselham-nos, os familiares amparam-nos, empurram-nos para a sua visão
da realidade, tentam mostrar-nos uma luz que não vemos, uma beleza que não
sentimos existir.
Às vezes temos dores, simplesmente dores, não
sabemos se grandes ou pequenas, porque na verdade a dimensão da dor é relativa
a quem a sente e como a sente. Pode ser pequena para quem observa, aponta e crítica.
Pode parecer enorme para quem, vê com maior acuidade e percebe a dimensão, não
da dor mas da pessoa que a sente. Todas elas são dores, porque nos doem, porque
estão em nós, não porque as queiramos, mas porque chegaram até nós, como órfãs
em busca de um pouco de carinho, de um curativo que as faça ficar melhores,
menos dolorosas.
Que remédio há para as dores? Depende do que
as causa, ou do local onde elas estão instalada, responderam.
Mas, e quando um comprimido não resolve?
Resta-nos, olhá-la de frente, tentar percebê-la, limpar-lhe as lágrimas depois
de chorar com ela e sorrir-lhe, mostrar-lhe que para tudo há algo de positivo,
até para as dores.
Fazem-nos andar mais devagar, olhar para nós
e para os outros. Fazem-nos cuidar, fazem-nos curar, fazem-nos perceber a nossa
dimensão. Não temos que ser super heróis, mas também não nos podemos entregar a
ela e deixar que nos vença e convença que é mais forte que nós.
A dada altura é bom haver uma separação, uma
despedida. Acreditar que vamos conseguir caminhar sem “muletas”, que a nossa
força nunca nos abandonou, nós é que nos esquecemos de a procurar no nosso
íntimo. A nossa força está lá, para tornar as grandes dores em pequenas e as
pequenas em nada. Há quem diga que as dores por vezes não necessárias, que nos
alertam para evitarmos males maiores, pode ser, mas é sempre melhor viver sem
elas.
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