Ainda
a falar do Natal? Já quase vos adivinho a cansada surpresa, cansada porque
ainda estamos mal recuperados do preparar a festa, do durante e agora do
depois.
Ainda
o Natal, sim, porque não? Se o Natal pode e deve ser todo o ano, e deve sê-lo
na solidariedade, na partilha, na atenção e no cuidado que devotamos aos que
amamos e aos que nos são desconhecidos mas que precisam do nosso auxílio, uma
moeda, uma sopa, um cobertor ou até um cigarro para quem não suplanta o vício
seja em que situação for.
É
este o encantamento do Natal, não somente as luzes que iluminam as ruas e as
nossas casas, mas também as que nos iluminam o coração para que possamos sentir
melhor o que se passa à nossa volta. Não só as iguarias típicas da festa que
nos adoçam a gulodice mas sobretudo aquelas que partilhamos com quem não as tem
não só por dificuldades económicas mas também por motivos de saúde. Um Natal
que é feito pela presença da família em redor de uma razão maior, a memória de
um amor grandioso que se propagou pelo mundo e o juntou numa só fé, a do amor
ao próximo. Uma família que pode ser feita por laços de sangue, por laços de
amizade ou simplesmente por laços de generosidade aos que estão à nossa volta.
Mas há ainda as prendas, ai as prendas que tantas dores de cabeça nos dão, para
tentarmos agradar a todos, para chegar cada ano a mais. Prendas que não têm de
significar coisas que embrulhamos para surpreender e receber em troca um
maravilhado sorriso, as prendas mais importantes são as que não cabem num
embrulho; a presença, a visita a um amigo, familiar, a um doente, a um vizinho
solitário, dando-lhe apenas um sorriso, um momento de atenção, uns instantes de
companhia. Pequenas coisas que têm tão grande valor, prometemos que vamos tornar
a fazê-las durante o ano, não cumprimos, mas no Natal, recordamos a promessa e
já não queremos adiar mais a vontade de partilhar e receber a dádiva da
gratidão.
Quando
vem Janeiro, e a festa termina, tiram-se os enfeites, despem-se as ruas do seu
colorido, há uma tristeza que nos invade, inconfessada, escondida, quase
magoada de tão enternecida, é a saudade do Natal não do que se foi mas do que
nos fica no peito, órfão de momentos que o tornam feliz na dádiva da humanidade
a que nos orgulhamos de pertencer.