Ser
o filho do meio não é fácil, dizia-me o meu sobrinho, com o desalento próprio
da sua idade (14 anos) pensei numa primeira observação.
Mas
talvez seja injusto não lhe ceder um olhar mais atento. O primeiro filho, é o
sonho concretizado e, simultaneamente a junção de todos os medos de uns pais na
sua primeira viagem de pais. Tudo é novidade e vivido à flor de pele, se o bebé
chora é o caus, o que quer, o que tem, o que pode acontecer se não o
conseguimos silenciar? Os pais desejam que o tempo passe rápido para que o bebé
fale e assim já possa dizer o que o
incomoda. E o tempo faz-lhes a vontade voa, de repente voltam um olhar
saudosista para os momentos em que o bebé só comia e dormia. Agora corre tudo,
cai, chora, grita, faz birras terríveis, os pais em desespero, telefonam, aos
avós, aos irmãos, aos amigos. Depois vem o segundo filho, o primeiro entra numa
fase complicada, como todas, já que vão descobrindo, que todas as fases têm a
sua problemática. Não há muito tempo para divisão de atenções, ainda bem que o
segundo bebé ainda está naquela fase maravilhosa do come e dorme e agora
esperam que ela se prolongue por muito tempo. Quando se apercebem chega o
terceiro filho, e o segundo que começara a saborear o papel de ser o mais novo
vê-se deslocado para o centro. O mais velho, já conquistou alguma autonomia, o
do meio sente-se “entalado” não foi o primeiro não recebeu a junção de todos os
medos e expectativas, não é o mais novo, por isso não recebe os mimos de ser o
último. Porque o último, esse sim, é agora o bebé, numa infância eternizada,
sabe-se lá por quantas décadas. Os pais carentes de um caminho a dois criam
esse espaço, dividem responsabilidades pelos irmãos, o mais velho, bate com a
porta, está a entrar na fase da adolescência, um bebé nos braços é a última
coisa que quer a impedi-lo de voar. O do meio, tem mais restrições, ainda é
demasiado novo para sair com os amigos, fica em casa, embala o bebé, dá-lhe a
papa, muda-lhe as fraldas. No início sente-se envaidecido com essa tarefa, com
o reconhecimento de que é responsável, mas depois cresce-lhe um peso no peito,
porque algures neste processo esqueceram-se que também ele era criança, que
precisava de brincar, brincadeiras próprias da sua idade e não de adultos. Os
pais só têm tempo para os problemas do filho mais velho e para mimar o mais
novo, o do meio, claro que o vêm mas continuam a delegar-lhe demasiadas
responsabilidades, tem que cumprir as expectativas que o primeiro filho não
cumpre e, apreciar a infância do mais pequeno, prolonga-la porque sabem que
esses momentos não voltam mais.
Mas
e o filho do meio? Aquele que ficou “entalado” entre fases de quem cresce e
quem nasce. Olho para o meu sobrinho do meio e desejo abraçá-lo, embalá-lo,
quero sentar-me no chão e construir com
ele brincadeiras de uma infância perdida, antes que a adolescência o roube de
mim e um adulto surja, incompleto no seu trajeto de crescimento.
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