Nunca
espero pelas palavras, elas chegam sempre com pressa, atropelando-se umas às
outras, gritando uma superioridade perante as que se colocam à sua frente. Como
se fosse vantagem chegar primeiro, resmungam, a valorização devia vir do
conteúdo e não da forma, argumentam.
Mas
acabam por se colocar ordeiramente num comboio de frases que se vão estendendo
pelas linhas, muitas ou poucas, depende das mãos que as escreve. Quando a dada
altura param, não sei se por cansaço ou por ordem da inspiração. Param,
simplesmente, desço o olhar para essas mãos que permanecem emudecidas,
questiono-as, mas elas já não se movem, como se tivessem cumprido a sua
frenética missão, a de escrever, deitar cá para fora algo que estava num
misterioso interior. Não sei onde, se no cérebro, na alma, no coração ou se num
diálogo desconcertante de células. A verdade é que, de repente, no branco do
papel surge uma mancha de texto, coerente ou incoerente no seu assunto, que é apreciado
ou abandonado num virar de página, ou, neste caso, deletando das suas vidas,
dos seus pensamentos, com um simples clic
de mouse ou com um ligeiro toque no
ecrã táctil. Talvez com a mesma rapidez com que o escrevi, no entanto, escrever
não é só este “parir”. Parir, sim parir, já estou a sentir uma suspensão na
respiração de quem me lê, pela crueza quase animal desta expressão, mas gosto
de a pronunciar, de sentir esta ligação à natureza no que ela tem de mais puro
e essencial. Fico mais maternal e protetora desta, “filha” banal, gramaticamente incorreta,
esteticamente desacertada, literalmente barroca, mas estruturalmente livre,
linearmente sonhadora, semanticamente sentimental, foneticamente gritante de
amor, de amores, de lágrimas que afloram em olhares que se deixam espreitar nas
janelas entreabertas. Por elas pego na caneta, por elas, deslizo nas teclas e desenho
contornos de vidas, esboços de rostos, aqui e ali acrescento-lhes traços de
esperança e projeto-lhes caminhos de felicidade. Com estas mãos que no seu
silêncio são a voz de palavras apressadas, que se alinham à espera de um momento,
aquele em que por magia cibernética são encontradas e recebem por um instante o
sortilégio da vossa companhia.
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