Há
uma espécie de orfandade em quem cresceu sem ter conhecido uma infância feliz,
em quem, nessa idade, não fez o quis, não voou nos seus sonhos, não mergulhou de
alma nua nas águas de um mar veraneante e sem o saber afogou-se sem afogar as suas
mágoas.
Há
uma espécie de desamparo nesse crescer com a falta de um abraço no começo do dia, a falta
de um beijo ao adormecer, uma história contada para encantar, uma mão que te
leva em segurança e confiança pelo caminho.
Há
uma espécie de abandono, um silêncio que
se esqueceu de nos murmurar no peito as palavras que precisamos de ouvir para
aprender a sorrir, invisível aos olhares desatentos, há uma lágrima que cai
dentro do coração e ninguém lhe ampara a queda.
Há
uma espécie de solidão neste viver arrastado como quem carrega a herança de
nada ter dessa infância que não aprendeu a brincar.
Há
uma espécie de ausência, dos outros e de si própria, criança que nunca o foi
porque lhe disseram que tinha de se comportar como uma menina crescida. E ela
cresceu, não em tamanho, não em idade, mas em maneira de ser e estar.
Há
uma espécie de vazio, um eterno e estranho frio, como se fosse um pequeno
passarinho que caiu cedo demais do aconchego do ninho e teve que voar sem
ninguém lhe dizer como e teve de seguir o caminho, sem ninguém lhe dizer qual.
Há uma espécie de nada,
arrancado ao tudo, que nos deixa incompletos, enquanto procuramos pela vida
fora a criança que tentámos ser mas que nunca fomos.
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