Apõe-se
no meu braço D. Joana. E ela apoia-se, mas nenhum apoio lhe é suficiente, os
pés sem quererem caminhar, não lhe obedecem, o corpo não se move e a voz
outrora sempre tão faladora faz um silêncio sepulcral.
Páro, olho-a, as lágrimas deslizam-lhe pelo
rosto e, no entanto, nem uma palavra, nem uma queixa.
A
Dona Joana vai para um lar de idosos, hoje em dia têm nomes tão pomposos
que quase imaginamos uma estância de
férias, mas não são; como a D. Joana diz, “são armazéns de velhos”.
Quer
sair de casa, ou melhor não quer, precisa. Os filhos não podem cuidar dela, o
marido partiu e ela hoje mais do que nunca, deseja ir para junto dele. Só
conheceu duas casas, a da sua infância que era a casa dos pais e depois a sua,
para onde foi depois de se casar, ali cresceram os filhos e os netos. Aquelas
paredes contam histórias, no corredor ainda ouve os passos em corridas das
crianças. Nos soalhos da sala ainda é visível a nódoa gasta de tão esfregada,
quando o filho mais velho entornou a travessa do cabrito assado, foi um susto,
se ele se queimasse, mas não, acabou tudo em risota, enquanto ele chorava, não
de dor mas por pena de ter ficado sem refeição, foi um almoço de Páscoa
diferente, feito de pizzas descongeladas à última hora.
Este
ano também a Páscoa será diferente, sem filhos, sem netos, à volta da mesa, só
rostos estranhos, com ar de condenados por um crime que desconhecem ter
cometido. E à noite o quarto será partilhado com alguém a quem o destino sempre
diferente, de repente, tornou-se comum. Talvez rezem juntas, talvez chorem
juntas, talvez sonhem o mesmo sonho. Estão nas suas casas, com as suas
famílias…
-
Vamos D. Joana, a sua filha está lá, em baixo no carro, à espera.
Porque
nem ela conseguiu arranjar coragem para ver a mãe sair daquela casa onde sempre
a viu abrindo-lhe a porta, recebendo-a com um sorriso, beijos e abraços. – Ó
mãe só fui passar o fim-de-semana fora. – Eu sei, mas no coração de mãe, as
saudades não se medem em tempo mas em distância, e tu estavas muito longe, não
te conseguia abraçar.
-
Vamos D. Joana, deixe-me só fechar a porta.
-
Não, não feches a porta. Deixa-me fazer de conta que vou só ali e já volto…
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