Sou
uma mulher ciumenta, assumo! Mas que fazer sinto-me demasiadas vezes sozinha,
traída, abandonada, esquecida…
O
meu marido fica horas a ver televisão, sobretudo os jogos de
futebol, o meu filho leva o dia inteiro a jogar na consola de jogos, a miúda
está sempre a teclar no smartphone
conversando com as amigas, até o mais pequeno prefere brincar com o tablet
do que ir correr no parque, porque está sol, está frio, sei lá que mais...
Outro
dia fui ao médico, que diga-se em boa verdade também não me ligou a mínima,
entrei e mal me olhou, baixou os óculos “tirou-me as medidas” e voltou a fixar o olhar no computador, - Ora diga lá
o que a traz cá.
- Cansaço, tristeza, solidão, uma dorzita aqui,
outra acolá… Respondi-lhe.
Não
me deu resposta, escreveu, escreveu e depois tentou imprimir uma receita para
me despachar, a consulta só pode demorar
no máximo 15 minutos, mas a impressora não
quis colaborar, teve um bloqueio “existencial” e lá ficámos ambos a olhar com
curiosidade para ver se a dita cuja, maquineta
ia ou não “cuspir” a folha com o nome do remédio milagroso para as minhas
maleitas. Coisas “próprias da idade” dizem-me para me consolar, mas tenho para
mim que a causa principal, está nas novas tecnologias que me vão fazendo sentir
cada vez mais “dispensável”. Confesso já lhes tenho raiva, fico furiosa de
ciúmes!
Uma
noite destas quando estava com uma das minhas insónias, o meu marido deixou
escapar num suspiro o nome de uma Sofia enquanto sonhava, surpreendida, abaneio
até o acordar.
-
Estavas a sonhar com uma Sofia? Quem é essa?
Estremunhado
de sono e surpresa, disse que no seu sonho estava na web summit a falar com a robot
Sophia,
aquela criatura de inteligência artificial que disse com ar arrogante que nos
vinha roubar os empregos, mas será que também vem “roubar” maridos?
Desabafei
com uma amiga os dissabores da minha vida, mas ela estava demasiado ocupada em
encontrar no GPS uma forma mais rápida de ir até ao centro comercial fazer
compras.
Cheguei
a casa a atirei-me para cima do sofá, quase de imediato recebi o meu cachorro
aos pulos sobre mim.
–
Só tu é que me ligas não é meu cãozinho?
Como
se me quisesse dizer algo, lambeu-me a cara e correu para a máquina lançadora
de bolas automático, num apelo saltitante.
–
Ok, já percebi, queres que ligue a maquineta para jogares à bola, não é? Nem tu
precisas de mim para brincar, basta que
ligue o botão e ficas horas a apanhar bolas que a dita máquina te lança.
Bom,
do mal, o menos, pelo menos não preciso de cozinhar, a Bimby encarrega-se disso.
Ponho a roupa na máquina e ela lava-a, tiro dessa e coloco na outra que a seca.
A loiça também vai para a máquina e pronto fico com mais tempo para conversar
com… alguém, no facebook.
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