Cá estou de novo, aqui, numa manhã cinzenta de inverno, um cinzento que se entranha na pele, que nos penetra as emoções, que nos entristece o olhar. Que nos entorpece os sentidos, que nos rouba até o sorriso.
Cá estou de novo, aqui, nesta sequência de dias, de noites e esta chuvinha miudinha que não é nem deixa de ser. Molha a calçada, faz-nos escorregar e se a arte do equilíbrio não for das melhores, vamos mesmo ao chão, "magoando" a roupa, "sujando" a alma desta humidade. De vez em quando, vem um aguaceiro para nos "animar" e fazer despertar desta letargia. Então, corre-se para o primeiro toldo de café, entrada de prédio ou por debaixo de uma varanda que nos sirva de abrigo, aqui e ali, abrem-se chapéus-de-chuva que mais parecem cogumelos coloridos a despontar.
Cá estou, aqui, descendo os olhos sobre a rua, procurando em cada rosto um diferente, menos cinzento. Há quem goste deste tempo, quem lhe fique indiferente, quem caia e se levante a sorrir, quem escreva mensagens de amor nos vidro molhados, irritam-me! Invejo-as pela sua "louca" felicidade, pela leveza dançante dos seus pensamentos positivos, pelo "bom dia" que nos oferecem quase como quem oferece um bouquet de flores. "Bom dia", respondo, mas o que tem de bom? Esta dor de cabeça fruto da sinusite, rinite e outras (ites), enfim, "chatices". E depois, são os ossos doridos a manifestarem-se; as constipações, as depressões, etc., etc.
Cá estou de novo, aqui, é sexta-feira, que bom, amanhã é sábado, dizem os jovens à saída da escola! O que tem de bom? Quase me apetece perguntar, deve ser bom para eles que nada têm para fazer, apenas relaxar, dormir, sonhar e à noite ir para a borga, as mães tratam das tarefas domésticas, passar e lavar a roupa, que com este tempo não seca.
Levar o cão que o filho lhe pediu mas do qual não toma conta, a passear logo pela manhã, ouvir o marido a falar do trabalho, da bola ou de imposto para pagar e os filhos, bem, esses, pouco falam preferem mandas sms, "mãe vou chegar tarde, não te preocupes depois como qualquer coisa na rua", mas preocupo-me, faz parte de ser mãe!
Cá estou de novo, aqui, seja que dia for, em que lugar esteja, estou, pensando, por vezes sonhando, acreditando ou tentando, ser feliz.
Porque há dias em que, também eu, sou como aquelas pessoas que trazem o sol dentro delas, quer faça chuva ou neve, têm o coração quente, quase ardente de paixão pela vida, por estar aqui.
Quando estar aqui, significa que se pode fazer algo, por pouco que seja para ter e ser a luz de quem só vê e sente a escuridão. Cá estou de novo, aqui, felizmente...
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