Haverá
quem se ria deste título, pessoas racionais, pessoas com tanto medo do futuro
que apenas conseguem criar saudades do passado, pessoas que não conseguem abrir
as asas da esperança e voar pelos ideais que gostariam de conquistar.
Mas
há quem, como eu, tenha saudades do futuro, essa sensação existe em nós,
cresce-nos no peito como algo que calamos ou que gritamos quantas vezes num
longo suspiro.
Esse
momento em que quase tocamos no futuro e quase de imediato ele se torna
passado, esse dia que tentamos apanhar na fronteira que chegamos quase a não
dormir com receio que o breve fechar de olhos lhe permita fugir de nós. Quando
a noite num suave parto faz nascer a manhã
que rapidamente se torna luz, ténue entardecer e escuridão.
De
repente o amanhã tornou-se hoje e quase simultaneamente, ontem.
Nesses
ontem, ficaram perdidos os nossos sonhos não realizados, as nossas esperanças
não alcançadas, as nossas lutas derrotadas, o nosso querer adiado, a nossa
vontade anulada. Resta-nos a saudade desse futuro, agora, passado,
continuamente protelado.
Saudade,
é apenas isso que nos resta. Saudade é apenas isso que nos faz seguir em
frente, deixando para trás o que passou, acreditando ainda no que há-de vir e
se não vier será apenas mais uma doce e terna saudade. Já nos habituamos a ver
passar os dias, a olhar para os meses, a abraçar os anos com a ternura de quem
já não se revolta por não ter chegado à meta desejada, por ter aprendido ao seu
ritmo a apreciar o caminho.
Aprendemos
a ser felizes por continuarmos a desenhar no horizonte fantasias de algodão e
esperanças de areia, porque o verdadeiro prazer, não está no concretizar mas no
que de nós pomos no projecto de sonhar e criar um futuro, mesmo que feito de
saudades.
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