Não
tenho uma vida, tenho o hábito de viver. Não tenho um emprego, tenho o hábito
de ir trabalhar, de me levantar cedo, tomar duche, engolir o pequeno almoço e
sentar-me na paragem à espera do autocarro, que tem o hábito de se atrasar.
Por
hábito, digo bom dia aos colegas, sorrio ou terá sido um espasmo muscular?
Pico
o ponto, sento-me na cadeira giratória em frente à secretária e começo a
“falar” com o computador, mais do que um hábito, começa a ser uma fiel amizade,
ele está sempre presente nos meus dias, meses, anos, ali, constante das 9 às
18 horas, de segunda a sexta. Se falta a luz é uma catástrofe, como se tivesse
morrido um parente próximo, um amigo do peito. Fico sem norte, sem sul, sem
rumo, sem hábito, perco-me de mim. Número de cidadão, de NiF, de NiB, etc., etc.,
não sei, está tudo no computador! Eu estou no computador! A minha identidade,
os meus segredos, sonhos, vitórias, fracassos. Porque, a dada altura tornou-se
um hábito, um quase vicio, partilhar a vida com o meu PC.
À
noite, regresso a casa, mas antes disso, por hábito, sigo os mesmos caminhos,
conto os mesmos passos até à esquina, antes de atravessar na passadeira,
sento-me no mesmo banco de jardim, dou pão aos mesmos pombos, bebo um café,
ouço as mesmas conversas. Por hábito, apanho o mesmo autocarro, com as mesmas
pessoas, já nos cumprimentamos.
"A Joana hoje não vem?"
"Atrasou-se, tinha uma reunião"
"E a Teresa, não a tenho visto, estará doente?"
"Não, está grávida, mas como é de risco devido à idade, tem de ficar de repouso nos primeiros meses".
"Hoje o autocarro vai mais cheio, começaram as aulas, lá vêm os miúdos carregados com as mochilas furando pelo corredor!”
”Pois é, já me tinha habituado ao sossego neste autocarro, agora é uma algazarra de gritos e conversas, só espero que não haja muito trânsito para chegar a casa depressa e relaxar um pouco, antes dos filhos chegarem com o pai”.
Porque a dada altura já não se tem um casamento, tem-se um hábito.
"A Joana hoje não vem?"
"Atrasou-se, tinha uma reunião"
"E a Teresa, não a tenho visto, estará doente?"
"Não, está grávida, mas como é de risco devido à idade, tem de ficar de repouso nos primeiros meses".
"Hoje o autocarro vai mais cheio, começaram as aulas, lá vêm os miúdos carregados com as mochilas furando pelo corredor!”
”Pois é, já me tinha habituado ao sossego neste autocarro, agora é uma algazarra de gritos e conversas, só espero que não haja muito trânsito para chegar a casa depressa e relaxar um pouco, antes dos filhos chegarem com o pai”.
Porque a dada altura já não se tem um casamento, tem-se um hábito.
Adaptamo-nos,
moldamo-nos, encaixamo-nos, acomodamo-nos, aceitamo-nos a nós e aos outros, por amor,
amizade, ou quem sabe, por hábito.