Ontem recebi um telefonema, era um convite para uma missa pelo aniversário de falecimento
de uma amiga, uma simpática amiga, uma generosa amiga, suave, gentil
extremamente polida, uma pessoa de outra geração, infelizmente já não há
pessoas assim. Foi uma geração profundamente enraizada nos valores, educada na
estima e pelos outros e respeito por todos, independentemente de tudo os que
nos separa de vivências, de fé e crenças, de origens, de cor de pele, de local
do mundo. Era uma amiga especial, porque era tudo isto numa só pessoa em
(quase) todos os momentos em que a conheci, sim, quase, porque ninguém é
perfeito e nós peças de uma sociedade nem sempre nos encaixamos em todas as
arestas, alguma ficam a faltar ou a sobrar, ou simplesmente não têm a mesma forma.
Mas já faleceu, partiu para a viagem ao infinito, tão
infinito que não tem regresso, podem dizer que as saudades a tornaram mais
ideal ao meu sentir, que a memória a vai suavizando e colorindo, talvez, porque
não, merece-o. A sua relação com os outros justifica-o. Já faz 2 anos e neste
tempo foi construindo uma nova história, repleta de si. Por isso me magoa este
convite, não pela lembrança da data porque essa permanece-me presente, mas pelo
facto de ser esta mais claramente lembrada com honras de celebração litúrgica.
Prefiro mil vezes recordar desse modo o dia do seu aniversário, o dia em que
nasceu e durante muitos anos passados e futuro é seu.
Ontem quando recebi o telefonema, parei o pensamento,
suspendi o sentimento e fui como ela e por ela, cordial, sim claro vou tentar
ir…
Não sei se irei, sinto que lhe estão a roubar a (vida) do
que era, para apenas recordar a dor da partida. Não quero que doa mais, não
irei. No dia do seu aniversário irei até ao mar, lançarei uma flor, quem sabe
lhe chegará…
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