Continuo
a surpreender-me comigo, com os outros, com a natureza vegetal e animal.
Continuo a descobrir-me em mim e nos outros. Continuo a crescer nos sorriso de
uns ou a diminuir no silêncio de outro. Continuo a caminhar na direcção de quem
me espera e a afastar-me na direcção de quem já nada me diz.
Continuo
a ter coisas para dizer mas na maior parte das vezes nada digo, porque eles já
sabem a verdade, para que repeti-la e voltar a tocar nas mais profundas
feridas.
Continuo
a fazer coisas, cada vez menos, falta-me o tempo, a vontade, o empenho, a
dedicação, desculpas de quem já não as quer fazer, se ao menos aparecessem
feitas…
Continuo
a sonhar, cada vez mais, apenas quando durmo, e durmo cada vez menos, coisas do
meu relógio biológico que passou a dormir nos minutos e a viver nas horas.
Continuo
a virar a página do calendário, não para saber como se arrumam os dias nos mês
seguinte mas para ter a certeza de que o mês anterior não se vá arrepender e
querer repetir-se.
Continuo
a contar a estrelas do céu, são cada vez mais, alegra-me a sua luz cintilante.
Quando era criança diziam que eram a alma de quem tinha partido para o céu e eu
incrédula na minha crédula expectativa procurava com olhar ávido pela prima
Graciete, pelo Adelino, pelo Sérgio (da Conceição), se lá estavam não sei, mas
entristece-me pensar que há cada vez mais estrelas, mais almas?
Continuo
a deixar-me navegar por pensamentos e fantasias, este meu lado de criança que
não cresce nem que viva 100 anos, que conheça da dureza da estrada mil vezes
palmilhada, que me roubem os sonhos, que me queiram invadir de medos, que os
fracassos superem as vitórias, haverá sempre em algum lugar de mim um velha e
doce história, cheia de moral e de luz. Porque, sim, continuo a acreditar que
há luz por detrás das nuvens mais cinzentas e que a chuva não serve apenas para
nos molhar mas para fazer desabrochar no nosso jardim as flores da esperança.
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