Gosto
de poemas com rima, dá-me uma sensação
de coisa arrumada. Gosto da cadência fonética, quando os sons parecem chuva de
inverno, umas vezes mansa e suave, outras em força e brusquidão quase
impositiva como que exigindo que a deixem entrar.
E
nós em casa, sequinhas vamos gozando com as gotas grossas que embatem na janela
e deslizam até ao chão, derrotadas na sua intenção de chegarem até nós e nos
encharcarem de água. E nós sequinhas
dela, um quase luxo, um verdadeiro prazer, o nosso lar quente, aconchegante e
lá fora uma inundação de mágoas do céu que vão formando um rio sem rumo descendo a rua pisada pelos
passos da indiferença.
Gosto
de poemas que contam uma história mesmo quando não é feita de vitória. Porque
contam a vida, por vezes a nossa, escondida numa qualquer combinação métrica. A vida que não se inventa, por vezes recria-se
dentro de nós, recomeçamos, mas sem a
fantasia romanceada de um breve folhetim. Poemas de quem passa e mesmo passando, fica,
quando lemos, quando sentimos o seu toque na pele dos sentidos.
Gosto
de poemas que têm emoção, que caminham sem pressa e chegam ao coração. Poemas de
começo de tarde, que nos aquecem, que nos enchem de palavras embalantes e
buquês de flores campestres. Poemas com alma que nos adornam com uma tépida
calma, gosto da sua voz que nos invade cada recanto silencioso dos nossos
torpores, dores e medos, trocando-os por encantos, e encantados prantos, que
nos adormecem e anestesiam as paixões, razões e contradições dos seres
que irremediavelmente somos.
Sem comentários:
Enviar um comentário