E
o outono? E o outono? Gritam os fãs desta estação, sentindo-se quase que discriminados, ou totalmente esquecidos das minhas palavras. Não falei do outono,
é-me difícil, porque o sinto tão profundo em mim, que tenho receio de que as
minhas parcas palavras não lhe façam justiça. Uma estação, quase um apeadeiro,
uma quase paragem, não para ficar de braços cansados e desistentes, mas de
braços que oferecem abraços.
Porque apetece abraçar as árvores que ofereceram
sombra e no outono deixam as folhas cair, partir. Prometem voltar, mas quem não
conhece as promessas vãs das partidas? Todos nós que já lhes acenámos, todos
nós que sentimos uma fonte de saudade a invadir-nos o peito. Sim, há-de voltar mas
se assim não for, que esteja onde estiver, feliz.
O
outono seco, amarelo, dizem que murcho, triste, não! Apenas nostálgico, porque
não tem a eufórica ventura do verão, mas rejubila por não ter igualmente a
dureza do inverno.
É uma estação de terna consolação. Uma cadeira no adormecer
da noite, uma dolência na frescura das tardes. Aquela imagem das crianças quando
vão para a escola, com roupas novas, com livros cheios de saberes, alegres por
reencontrar amigos. As praias cada vez mais vazias, os parques da escola cada
vez mais cheios, os risos são os mesmos, infantis, ingénuos, sonhadores,
repletos de esperança.
Os pássaros cantam suaves melodias, e com a sua música
dizem aos filhos que está na hora de também eles voarem. Já apetece tapar os
braços nus, já apetece apertar contra o peito o casaco de malha, já sabe bem
caminhar por tapetes de folhas sem o calor nos cansar. Já apetece ficar a ver o
mar sem desejo de nele mergulhar, sentindo-o embalante no seu movimento.
Mas
ainda é cedo, demasiado cedo para receber o outono, para o viver, para o
sentir, cada um à sua maneira, uns com vontade de voltar ao passado, outros com
o anseio de chegar rapidamente ao futuro. Quanto a mim, não tenho saudades a prender-me
ao ontem, nem tenho pressa do amanhã, quero simplesmente vivenciar o hoje,
qualquer que seja a estação.
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