Caía uma chuva mansa, tristíssima, num domingo à tarde.
Tinha tanto planos, todos eles secos, contando para isso com o sorriso amplo do
sol. Mas o astro rei, domingou, descansou de um verão que parecia querer prematuramente
invadir-nos, mas isso foi durante a semana, em dias de trabalho quando as
temperaturas ultrapassaram os 30º. Começámos a desenhar planos, esboços de um fim-de-semana
pleno de aventura, um mergulho no mar, um passeio pela costa litoral, um picnic,
encher os olhos de azul, um encontro de amigos, uma mochila às costas e
caminhar, limpar os pulmões dos ares
urbanos, expurgar os pensamentos da demasiada proximidade civilizacional.
Sair da rotina, abandonar
o relógio na cómoda do quarto e guiarmo-nos
apenas pelas sombras do sol, mas ele, revelou que tinha outros planos, nos quais eu não estava incluída.
Senti-me abandonada, traída, senti o rosto molhado, mas eram
as gotas de chuva a deslizar, perguntei-me se seria solidariedade ou qualquer espécie
de vil castigo, revoltei-me, não o merecia. Ergui a minha espada de argumentos
e esgrimi palavras desventuradas, nem o eco me respondeu.
Voltei para casa, despi a roupa molhada, fiz um café bem
negro, como os meus sentimentos, deitei-me no sofá, acendi a televisão e
continuei a ver a catrefada de episódios gravados da série Guerra do tronos, mergulhei
naquele tenebroso ambiente, senti-o semelhante ao meu, também ele triste,
solitário, de lutas perdidas, adormeci, cansada deste domingo, que me roubou
todos os sonhos que me levaram uma semana inteira a criar, sonhei e nesse sonho
reencontrei-me alegre, caminhando num verde infinito e o azul estava límpido de
nuvens claras deixando aqui e ali escapar um raio de luz solar.
Quando acordei, a noite já tinha chegado, levantei-me leve,
vesti o impermeável e fui passear o cão. Senti que nada me tinha derrotado, nem
o silêncio da escuridão, nem a chuva mansa, ela sim, tristíssima.