Gosto
de te ler, mesmo que sejam apenas umas poucas linhas, umas poucas frases,
algumas poucas, palavras. Leio-te, releio-te. Encontro as tonalidades da
escrita, os diferentes sons que parecem mudar, enriquecer-se a cada leitura.
Ouço-lhe
risos, sinto-lhe abraços. Por vezes até lhe encontro uma lágrima caída na perna
de uma letra que discretamente se aninha na outra, como se se quisesse
esconder, uma pequena gota de água, incauta, e fugidia, mas que se revela na
sua timidez envergonhada.
Olho-a, sinto-a, quase, apenas quase que a
recebo nas minhas mãos, com o carinho de quem percebe e compartilha de tal
mágoa.
Mas
nesse momento, também eu escondo na mais displicente vírgula, quem sabe
escorregue e se afogue na branca folha, já não de papel.
Estamos
noutra era, dizem os entendidos, que assim seja, pouco importa se os tempos
mudam desde que os sentimentos continuem a aflorar com melancólica alegria, com
melódica tristeza, é isso que nos define humanos, verdadeiros no sentir mesmo
que escondido, disfarçado nos espaços entre linhas, encoberto na ténue união
das letras, camuflado no sentido das palavras.
Por
isso, gosto de te ler, de te encontrar, em cada linha pintada de sentidos
furtivos, de devaneios ocultos, de sonhos secretos.
Gosto
de te ler, mesmo quando as palavras demoram, é sempre com alegria da chegada
que te recebo. É suave a dor da espera, a ansiedade pela antecipação de algo
bom que vamos receber. Pode ser uma missiva curta, um diálogo sem grande
conteúdo, mas que importam os grandes lirismos repletos de artificiais sentidos?
Basta um olá, de letras pequenas, redondas, carregadas de amizade, carinho, ou
apenas de atenção, respeito, admiração. Olá, respondo, Olá? Pergunto, como
estás, quero que estejas, onde estiveres, estejas muito bem.
Aí
a minha imaginação, aí o meu incongruente coração. Fantasias da solidão?
Talvez, quem sabe.
Só
sei dizer que me sabe bem, ler-te…
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