A
chuva, coitada, mal amada, rejeitada por ventos e marés. É a culpada de tudo,
da subida das águas, da correnteza dos rios, das ondas dos mares, das poças que
um carro ao passar levanta e nos banha,
de nos deixar molhadas encharcadas até à alma. A chuva que leva com as maiores
culpas, com todas aliás, até a de solidão, porque nos isola dentro de casa,
porque nos impede de ver além dos pingos, entristece-nos, sufoca-nos com o seu
barulho ao cair sobre as pedras da calçada, das goteiras, batendo nos carros,
nos vidros da janela.
Sim
a culpa é da chuva, porque nos sentimos assim, como se nos chovesse por dentro.
E no entanto, confesso, já fui muito feliz em tantos dias de chuva, em que
chovia lá fora, mas aqui, dentro do peito havia um sol radiante. “O tempo de
fora não conta quando é verão dentro de nós”.
É
verdade que quando o céu fica cinzento, como se fosse um espelho reflete-se em
nós e os nossos olhos incapazes de brilhar por si só, ficam também eles
cinzentos, murchos, tristes. Uma tristeza que vem do horizonte, que nos
entranha pela pele, que nos chega a todas as células de energia anímica.
De
repente, somos nuvens carregadas de mágoa. De repente, somos vidas carregadas
de um vazio que nos pesa toneladas, de uma solidão que nos invade os
pensamentos, os sentimentos. Mais uma vez, pensamos, desejamos, que a culpa
seja da chuva.
Mas
não é, neste caso, não é. Porque a solidão não é viver
só, a solidão é sermos capazes de fazer companhia a nós próprios.
E a chuva, quer queiramos, quer não, faz-nos
companhia. Rega as plantas e os campos, enche barragens para termos água e
energia, lava as ruas, lava a poluição do ar, enche os rios, os mares para ser
caminho de barcos.
É tudo uma questão e se ver com o olhar límpido, com o
coração leve, com um sorriso. Se chove, vamos dançar com a chuva mesmo que com
o guarda-chuva aberto.
Lindo! Sim, a chuva dá vida! Lava, mata a sede,refreca...
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