Que palavras madrugantes me fazem
erguer e ver o sol, cumprimentar a chuva, não sei, na verdade não as ouço, mas
sinto-as a vibrar em cada célula do meu ser. Então corro, talvez já não tanto
quanto corria noutros tempos, também já não tenho razão para isso, a vida
espera-me em cada recanto, em cada esquina de uma rua, já não preciso de ir à
procura dela. Não tenho mistérios para procurar, nem curiosidade sobre o amanhã, tenho o hoje e vou
vive-lo até ao último segundo da décima segunda badalada.
Instalei-me na rotina, talvez seja
errado, mas sabe-me bem, como se fosse um sofá que já conhece cada curva do meu
corpo e as contorna, acaricia e aconchega, é difícil sair desta área de
conforto, sinto que a mereço, que a conquistei em batalhas ganhas e
perdidas.
Mas no final percebi que nada nem
ninguém merece ser-me uma guerra, então sorriu, o sorriso é a única arma letal
que agora uso para enfrentar as intempéries humanas, porque o hoje tem de
adormecer tranquilo, sem motivos que me impeçam de sonhar, de acreditar que
tudo se resolve e que não há dor alguma que valha apena causar ou sentir.
O sol volta a brilhar, a chuva volta a
cair, o vento a chegar, a terra a florir e eu, simples pessoa, feliz por te ser
anónima deixo-me navegar pela tua curiosidade, um olhar que tem palavras que
não quero ouvir. Prefiro o edílico platonismo de cada encontro, e neste jogo de
adivinhas, idealizo-te em voos de asas estendidas que desenham no céu hieróglifos
modelares do coração.
Sim porque só ele, o coração, consegue
murmurar com voz de cânticos estivais, as palavras madrugantes que nos fazem
acordar e continuar a sonhar deslumbrantes realidades.