Este
Natal podia ter sido diferente, desculpa, não o consegui fazer assim. Estava
cansada, cansada de ver as lojas cheias e os olhares vazios. Cansada de ver
pessoas a sucumbir na pobreza enquanto outros exibiam a sua riqueza. O dinheiro
passando de mão em mão enquanto aquela mão estendida continuava vazia.
Mas
tentei, acredita que tentei, caminhei pelas ruas e procurei nelas o sentido
para um Natal que me fosse sentido dentro do peito. Abri-lhe a porta, até as
janelas, arregacei as mangas, amassei as filhoses, fritei as rabanadas, virei
os sonhos na frigideira, pus o bolo rei no centro da mesa e esperei por Ti. Uns
dizem que Vens pela chaminé, outros que Chegas sem bater à porta, cada um tem a
sua fé, respeito e rezo, como dizia uma amiga, “para o santo que estiver
disponível no momento”.
Peço
um Natal, limpo, puro, menos consumista mais consumido em sentimentos. A festa
que seja para Ele, por Ele. E que Ele se sinta bem vindo e resida em nós por
todo o ano.
Tentei
que fosse realmente Natal, não consegui, confesso o meu fracasso quando olho em
redor e apenas vejo amontoados de papéis e caixas de cartão, de sacos com
restos, garrafas vazias espalhadas pelo chão. Vestígios de festa, sim, é
verdade, mas não da Tua festa. Encontraram-se as famílias, trocaram-se prendas,
rimos, cantámos melodias de Natal, comemos, bebemos, festejámos. Desejámos tudo
de bom para os amigos, colegas, conhecidos.
Lembrámos
a dor dos que estão distantes, dos que vivem em clima de guerra, dos que têm
fome, dos que sentem dor, dos que estão doentes, mas como a mera lembrança nada
resolve, optámos por esquecê-los.
Encontrei
esta acusação em diversos artigos que li em jornais e revistas e jurei que este
ano faria um Natal diferente, que não iria esquecer, apesar de saber que este
“esquecimento” não é por egoísmo, mas
por mágoa da nossa incapacidade para fazer mais e melhor.
Acendi
a televisão, quis estar lá com eles e que Ele também lá estivesse, que a Sua
festa acontecesse por entre as ruínas de uma guerra perdida. O mundo que por
vezes nos parece tão pequeno foi afinal grande demais para mim, que estendi os
braços e não os consegui abraçar. Então tentei abraçar os que me estavam
próximos, fui para a festa dos sem abrigo da Comunidade Vida e Paz, chorei ao descascar sacas de cebolas, mas ri-me pelo banho que apanhei ao lavar 90 quilos
de couves e depois de várias horas de partilha voluntária, saí sentindo que, de
alguma forma, dei um pouco de mim para que alguns tivessem um melhor Natal e
que de uma forma ou de outra, cada um à sua maneira festejou genuinamente o renascimento
do Natal em si.
Esta
é a minha história, o meu Natal, quanto à vossa, se cada um ajudou o próximo,
quem sabe, tenhamos chegado mais longe, ultrapassado fronteiras, quebrado
barreiras, e levado o espírito de Natal até onde ele era mais preciso.
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