Há
sempre os que nos esquecem. Há sempre os que como nós, esperam e de tanto
esperar, já fizeram da sua vida, ausência e esquecimento. Doloroso no início,
suavizando-se com o passar do tempo. Houve até momentos de lamento, de revolta,
de culpa inocente. Exigimos o direito a ser feliz. Uma felicidade que julgamos
estar no outro. Com ele a felicidade chegou, sem ele, a felicidade partiu.
Já
dizia a sua avó, “depois do encanto fica o pranto”, e ela ria-se garantindo,
“comigo nunca será assim, nunca hei-de ficar à espera”. Nunca hei-de perder “esse
alguém”, em boa verdade, esse coração intrépido e rebelde como se quer nos
verdes anos, não achava possível vir a conhecer tão maravilhoso, doloroso,
grandioso, fantasioso, (preferia assim supor), sentimento.
Os
pais riam-se da “santa” ingenuidade, os avós passavam-lhe a mão pelo rosto “ai
criança, era bom que assim continuasses, mas há-de chegar o dia… Chega sempre,
para quem o procura e para quem dele foge”.
Tinham
razão, como não havia de não se apaixonar se por tudo era uma apaixonada, nas
descobertas da vida. Coisas da juventude, talvez, mas o tempo passou e continua
a fazer tudo com paixão. A entregar o corpo, a alma, o coração. Continua a
correr, a cair e a esfolar os joelhos. O sorriso continua a dançar-lhe nos
lábios, a mesma gargalhada de menina, mas os olhos tornaram-se escuros, cada
vez mais escuros.
De
repente. Fecha-os envergonhada da sua transparência, sentindo-se invadida,
revelada no seu mais intimo segredo. Tenta gracejar, “é a noite a chegar, já
vivi o amanhecer, agora vou entardecendo”.
Há
sempre os que nos esquecem, que fizeram parte do nosso projecto de futuro mas
que nos passaram a ver apenas como o seu passado. “Faz parte da vida”. Tenta
convencer-se acreditando que nos convence e que assim a deixamos entregue à sua
nostalgia. “Temos que caminhar em frente”, reforça a ideia, numa tentativa
gorada de curar as feridas do esquecimento.
Acabo
por confirmar, só para não ser a voz discordante, mas uma frase me vai dançando
no pensamento, “Sim, temos de caminhar em frente mesmo que com os olhos olhando
para trás”.
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