“O tempo não descansa”. Talvez sejamos nós
que o cansamos na azáfama em que o fazemos andar. Umas vezes a correr, outras,
sem quereremos andar.
Só o
tempo nos impulsiona a erguer, a caminhar. Companheiro silencioso, complacente
e bom ouvinte, generoso amigo, sempre presente para nós. Mas também gritante de
forças e argumentos que ouvimos sem querer ouvir, mas temos de lhe dar razão,
afinal o que andamos a fazer com o tempo? Com o nosso tempo!
Ele “não rola ociosamente pelos sentidos”
nunca há um tempo perdido mesmo até aquele que sentimos como não vivido, aquele
que não faz para nós sentido, ele existe, está lá, sombra e conteúdo que nos
transita pelas células da nossa existência.
Como se nos fosse uma história de encantar,
por vezes, uma história de chorar, mas rimos, rimos sempre, mais tarde ou mais
cedo dessa lágrima perdida, um dia, por certo, esquecida.
Por essa época quando “o tempo vinha e
passava, dia após dia” repetindo gestas, momentos, fracassos, vitórias. E nós
crescendo e morrendo, mudávamos, tornávamo-nos
cada vez mais nós, alegres cantantes, eternos sombrios, viajantes. “Faz parte”,
habituamo-nos a ouvir, habituamo-nos a sentir, entre a crença e a descrença,
nos actos de fé e de ateísmo, faz parte… E isso, somente isso, deixava-nos
tranquilos. A culpa era do tempo, infalível, implacável professor de promessas
de amor, algumas também de dor.
Volto
a repetir a voz do senso comum? Não, já sabe o que diz e aquieta-nos.
Enquanto que o tempo, amigo e vilão da nossa
história, “vindo e passando inspira-nos novas esperanças e novas recordações”.
O tempo, sempre o tempo, o inimigo mais amigo
que temos. Queremo-lo todo, perpétuo, rápido para chegar aos bons momentos, demorado
para chegar aos maus, duradouro nas coisas maravilhosas, nessas que só o tempo
nos oferece. Porque é nele que está tudo, até nós.
(Citações de St. Agostinho em Confissões)
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