Quando
olhamos para lá do olhar. Quando ouvimos para lá das palavras. Quando sentimos
mesmo que à margem do toque. Quando compreendemos para lá da frase. Quando
inspiramos a tristeza calada. Quando devolvemos a dor curada. Quando somos nós para
os outros. Quando sentimos os outros em nós.
Somos por fim vida, plena, inteira, cumprida,
vivida, sem fugas, suplantando medos, abrindo o peito aos perigos e
vencendo-os. Nem sempre é fácil, por vezes é mesmo muito difícil. É preciso
fazer silêncio, quando por dentro tudo nos grita tempestades que nos naufragam
os sonhos.
Mas
também há faróis, jangadas de esperança desbravando caminhos marítimos nos
nossos desertos de ânimo. Porque as forças humanas se revelam nos momentos
certos sobre humana, e o animal feroz que nos quer devorar, lambe-nos a
feridas, aconchega-nos do frio.
Somos
nós células que nos percorrem com pressa simplesmente de fazer a cíclica
viagem, porque não há saída. E mesmo assim, não há repetição, cada caminho,
sempre o mesmo, aparentemente igual é eternamente diferente.
Porque
o olhar olhou, porque as palavras ganharam sentido, porque o toque, sem tocar
sentiu-se tocado. Porque cada frase criou o diálogo. Porque a tristeza se
alegrou e a dor saiu definitivamente de cada molécula magoada.
Assim
se estabelece uma relação: de amizade, de amor, ou do simples desconhecido que
se torna agora conhecido.
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