Pós-de-bem-querer para partilhar/oferecer: Pensamentos, histórias, aprendizagens.Tudo o que acontece quando se vive e se ama a vida!...
sexta-feira, 29 de abril de 2016
terça-feira, 26 de abril de 2016
Post.it: Sempre que houver amanhã
Nem
sempre é esquecimento, mas sim um adiamento, é verdade que por vezes, infinito.
Mas está lá, algures em nós, na promessa que fazemos aos outros e que nos repetimos.
Porque não cumprimos? Cumprimos, a verdade é que cumprimos sempre, um dia,
naquele dia, inadiável em que nada, mas mesmo nada nos impede de o cumprir.
Antes que seja tarde, às vezes tarde demais para chegarmos e nos unirmos
naquele abraço que sentimos vontade de dar e necessidade afectuosa de receber.
Contamos
com ele, firme, apertado, caloroso, que nos ampara, mesmo quando só queremos
amparar o outro. Continuamos a arruma-lo nas margens do tempo como se o tempo
nos fosse eterno.
Sabemos
que o sentimento é inabalável, que não sucumbe às intempéries. Está lá,
perdoando o esquecimento, a ausência, o silêncio. Mas tudo isto é egoísmo da
nossa parte, porque acreditamos que podemos sempre voltar com o mesmo sorriso e
não perceber que do outro lado o sorriso mudou.
Sim,
mudou, não por ressentimento, mas porque os rios já passaram vezes sem conta por
debaixo daquela ponte, já a erosão dos
ventos lhe esbateram os traços ternos a que nos habituamos. E a grande mágoa
sua e nossa é que não estivemos lá, para partilhar, para amparar.
De
repente, percebemos, que outra história foi escrita e nós desconhecemos-lhe o
conteúdo dos seus capítulos.
E
compreendemos que o que fomos, já não
somos, já não seremos.
E
agora? Não sei, responde-me confusa a consciência.
Vamos
recomeçar, diz-me o coração. Desta vez, prometo que não vou esquecer, que vou
estar sempre aqui. Talvez, nem sempre.
Mas
quase, quase, sempre quando a saudade, a vontade de partilhar, de revelar, de
não conter a tristeza, de desabafar uma mágoa, de compartilhar a alegria.
Sempre,
mas mesmo sempre que a felicidade nos reencontrar.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Post.it: A revolução dos Cravos
Foi
uma Revolução de cravos, porque se calaram as armas, porque se emudeceram as
revoltas, porque se ergueram os braços para festejar a vitória e se acenaram
flores.
Porque
se atiraram pétalas de esperança numa primavera que renasceu, livre para florir
palavras sem medo.
Porque
o vermelho agitou-se nas mãos e não era sangue, mas como ele significava vida, vibrante
e renovada.
Recordada
em cada recordação do ontem um novo sol
brilhava em cada rosto de expectativa e de confiança. Afinal “foram anos a esperar
por um só dia”, até encontrar “em cada esquina um amigo”, “em cada rosto igualdade”.
Entretanto,
continuamos a celebrar, embora, cada vez menos a recordar, porque cada geração
que nasce, nasce em liberdade e longe da sua ideia está qualquer forma de
repressão. E mesmo aqueles que olham para o hoje e sobretudo para o amanhã com
olhar crítico e magoado, não lhe é tirada a razão mas cada momento histórico
tem os seus dissabores, comparar o passado com o presente é relativizar a luta
de quem sofreu o peso constante de uma ditadura e que se libertou pela força da
união.
Há
quem diga que devia acontecer uma nova revolução, prefiro pensar que o que
necessitamos é de uma nova união. Talvez seja preciso colher todas as flores da
primavera não para aplacar as armas mas para apaziguar os corações que se
sentem traídos nos seus ideais de Abril.
E
para que estes ideais não esmoreçam vamos construir em Abril a continuidade auspiciosa
de cada mês, de cada dia em que vejamos nos outros o reflexo do nosso sorriso
na oferta generosa do seu.
Para que os cravos de Abril de 1974 continuem
acenando objectivos conquistados, na certeza de que vão ser eternos na primavera
de cada vida que nasce e cresce livre para ser Feliz...
terça-feira, 19 de abril de 2016
Quando eu nasci
A
lua ofereceu o seu maior luar.
No
céu o número de estrelas aumentou,
E
o mar fez cada onda o dia embalar.
Quando
eu nasci os ventos cantaram,
As
árvores em abraços dançaram.
Os
pássaros por instantes não voaram,
E
os rios em suspense quase pararam.
Quando
eu nasci já o verão se despedia,
E
a suave manhã começara a despontar.
Cada
pessoa olhava para a outra e sorria,
Das
nuvens nem uma gota se queria soltar.
E
mesmo com a minha mãe meio a chorar,
Pela
tristeza de eu não ter nascido rapaz.
Senti
que havia algum amor a me rodear,
E
que no meu crescer teria harmonia e paz.
Tudo isto aconteceu no dia em que eu nasci,
E embora não tenha sido pelo meu nascimento.
Ao mundo com gratidão eternamente agradeci,
Por ao nascer me dar o seu mais belo momento.
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Post.it: Relações
Quando
olhamos para lá do olhar. Quando ouvimos para lá das palavras. Quando sentimos
mesmo que à margem do toque. Quando compreendemos para lá da frase. Quando
inspiramos a tristeza calada. Quando devolvemos a dor curada. Quando somos nós para
os outros. Quando sentimos os outros em nós.
Somos por fim vida, plena, inteira, cumprida,
vivida, sem fugas, suplantando medos, abrindo o peito aos perigos e
vencendo-os. Nem sempre é fácil, por vezes é mesmo muito difícil. É preciso
fazer silêncio, quando por dentro tudo nos grita tempestades que nos naufragam
os sonhos.
Mas
também há faróis, jangadas de esperança desbravando caminhos marítimos nos
nossos desertos de ânimo. Porque as forças humanas se revelam nos momentos
certos sobre humana, e o animal feroz que nos quer devorar, lambe-nos a
feridas, aconchega-nos do frio.
Somos
nós células que nos percorrem com pressa simplesmente de fazer a cíclica
viagem, porque não há saída. E mesmo assim, não há repetição, cada caminho,
sempre o mesmo, aparentemente igual é eternamente diferente.
Porque
o olhar olhou, porque as palavras ganharam sentido, porque o toque, sem tocar
sentiu-se tocado. Porque cada frase criou o diálogo. Porque a tristeza se
alegrou e a dor saiu definitivamente de cada molécula magoada.
Assim
se estabelece uma relação: de amizade, de amor, ou do simples desconhecido que
se torna agora conhecido.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Post.it: Silêncio
Silêncio,
adoro escutar-te, nesse vazio preenchido de rubor solar, de horizontes de azul
e verde. Gosto até mesmo das cores da cidade, das gentes, quando as observo por
detrás da vidraça, em silêncio.
Esse
silêncio que adoro abraçar quando ele me desperta dos sonhos com a suavidade de
um quase beijo. Não chego a aborrecer-me por me roubar à delicia dos sonhos,
mesmo dos mais belos, avassaladores, das aventuras em que corro, voo, até das
quedas que não chegam a doer nem a gemer, porque estás lá, silêncio, enchendo
de ti cada recanto desse mágico encanto.
Despertar contigo é continuar essa ventura,
sinto-te no calor do leito, vejo-te na luz amena que entra pelas frinchas da
janela e inunda as paredes do meu quarto sem me ferir o olhar. Peço ao relógio que
cale o seu tic tac, que a terra suspenda o seu girar, por um instante, apenas
um instante, para prolongar a brandura deste silêncio. Tão curto no tempo do
tempo, tão eterno na sensação do sentir.
Não tarda, o bulício de mil despertares vão irromper
pela madrugada, com vozes de impaciência, então ressoam motores famintos de
combustível, entoam buzinas no alarido de frenesim, chiam travões buliçosos,
saltos de sapatos magoam a calçada na sua pressa desassossegada, cães ladrando
na excitação de tanta confusão que festejam sem entender o motivo, enquanto os pássaros
mais afoitos tentam sobrepor o seu canto ao desencanto social que o quer
sufocar. Num hiato de silêncio, pasmo, na indiferença de uns, no alheamento de um
som, uma quase melodia. É um grilo, grita feliz uma criança. Sim é um grilo que
dá o seu último trinado noturno, confundido, talvez com a rápida invasão do sol
que lhe roubou a protetora escuridão quando ele tímido na sua figura minúscula,
tentava encantar a lua com uma serenata de um amor improvável.
Silêncio
onde tens morada? Nas bocas caladas, cujos pensamentos em ebulição ameaçam
alagar as vozes? Nos olhos fechados que se recusam a verter mais alguma lágrima
que ameaça banhar o rosto? No sorriso que esconde retraidamente a mais profunda
e verdadeira gargalhada de felicidade?
Não,
não é esse silêncio que busco, esse silêncio magoado, esse silêncio
aprisionado. Quero-o livre, esvoaçante, leve. O silêncio escolhido, amado. O
silêncio que nos enche de paz, tranquilidade, que nos aquieta a alma, que nos
aconchega as emoções. Que vence o barulho numa guerra em que o derrotado
celebra também ele a vitória do vencedor. Porque também ele quer o silêncio aquietando-lhe
a intempéries das citadinas horas.
Quem
não o quer? Todos, suponho, até mesmo aqueles que o negam por medo de se
“viciarem” na harmonia da sua existência.
sexta-feira, 8 de abril de 2016
Sempre flores
Para
a todos oferecer.
Que
o amor não seja ausente,
De
todo o meu viver.
Que
encontre sempre flores,
No
jardim de cada dia.
Mesmo
com picos e dores,
Que
se tornem em alegria.
E
cada passo que já foi dado,
E
cada passo ainda por dar.
Me
faça ultrapassar o cansaço,
Para
continuar a caminhar.
E
se um dia a solidão,
Me
vier fazer companhia.
Vou
recebe-la no coração,
Vou
embala-la na maresia.
Porque
cada gota de água,
Merece
encontrar o mar.
Porque
cada simples mágoa,
Merece
tornar-se sonhar.
terça-feira, 5 de abril de 2016
Post.it: I'm sorry
“Que
diz o teu olhar?” Pergunta o locutor de um programa de televisão. O meu olhar
diz tanta coisa que não há palavra suficientes para o relatar, talvez, por isso
responde o silêncio, só ele pode em alguns momentos dizer fielmente o que vai
no meu olhar.
“Alguém
te deve um pedido de desculpa?” Mais uma pergunta que me faço e confirmo que
sim, devem-me alguns pedidos de desculpa e que neste caso, sobretudo neste, o
silêncio nunca é resposta, ou melhor, a resposta que gostaria de obter. Porque
o silêncio é sempre uma resposta, nem que seja aquela que não queremos receber.
Mas voltando à questão, “devem-me um pedido de desculpa?” Sim. Mas nunca o vou
receber. Porquê? Porque para haver esse pedido, teria de haver reconhecimento
de que se errou e isso é algo que nem todas as pessoas têm a coragem de admitir.
Se
devo um pedido de desculpa a alguém? Não sei, penso que não, tento que não.
Pedir
desculpa não é necessariamente mudar a nossa opinião, mas obriga a uma mudança
de atitude. “Não temos que dizer tudo o que nos vai na alma mas somente o que é
necessário”. Não temos dizer algo como se fossemos arremessar pedras, quando em
vez disso, elas podem ser colocadas uma a uma com prudência para formar um
suave caminho. Pedir desculpa é a maior prova de respeito e de consideração
para com o outro, esse que estimamos e não queremos em momento algum ser a causa
da sua mágoa. Para que o lugar da amizade, do afecto não seja ocupado por dor e
ressentimento, quando basta um pedido de desculpa sincero para tornar alguém feliz
e ser ponto de reencontro.
Quando
era jovem achava que tinha de me afirmar, de mostrar que tinha opinião. Ser
quem era, com algum menosprezo, alguma insensibilidade
para com os outros, confesso. Hoje, como é bom “envelhecer”, amadurecer,
crescer e perceber que só ganho na medida em que não perco, sobretudo os amigos.
Percebi que não havia razão para me impor e que era muito mais agradável caminhar
lado a lado, cada um com a sua maneira de ser conciliada.
Somos
humanos, erramos, talvez não pela forma como somos mas por aquela em que usando a nossa possibilidade de escolha, da
melhor ou da pior forma, agimos.
sexta-feira, 1 de abril de 2016
Post.it: Tempo de esperança
“O tempo não descansa”. Talvez sejamos nós
que o cansamos na azáfama em que o fazemos andar. Umas vezes a correr, outras,
sem quereremos andar.
Só o
tempo nos impulsiona a erguer, a caminhar. Companheiro silencioso, complacente
e bom ouvinte, generoso amigo, sempre presente para nós. Mas também gritante de
forças e argumentos que ouvimos sem querer ouvir, mas temos de lhe dar razão,
afinal o que andamos a fazer com o tempo? Com o nosso tempo!
Ele “não rola ociosamente pelos sentidos”
nunca há um tempo perdido mesmo até aquele que sentimos como não vivido, aquele
que não faz para nós sentido, ele existe, está lá, sombra e conteúdo que nos
transita pelas células da nossa existência.
Como se nos fosse uma história de encantar,
por vezes, uma história de chorar, mas rimos, rimos sempre, mais tarde ou mais
cedo dessa lágrima perdida, um dia, por certo, esquecida.
Por essa época quando “o tempo vinha e
passava, dia após dia” repetindo gestas, momentos, fracassos, vitórias. E nós
crescendo e morrendo, mudávamos, tornávamo-nos
cada vez mais nós, alegres cantantes, eternos sombrios, viajantes. “Faz parte”,
habituamo-nos a ouvir, habituamo-nos a sentir, entre a crença e a descrença,
nos actos de fé e de ateísmo, faz parte… E isso, somente isso, deixava-nos
tranquilos. A culpa era do tempo, infalível, implacável professor de promessas
de amor, algumas também de dor.
Volto
a repetir a voz do senso comum? Não, já sabe o que diz e aquieta-nos.
Enquanto que o tempo, amigo e vilão da nossa
história, “vindo e passando inspira-nos novas esperanças e novas recordações”.
O tempo, sempre o tempo, o inimigo mais amigo
que temos. Queremo-lo todo, perpétuo, rápido para chegar aos bons momentos, demorado
para chegar aos maus, duradouro nas coisas maravilhosas, nessas que só o tempo
nos oferece. Porque é nele que está tudo, até nós.
(Citações de St. Agostinho em Confissões)
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