Eu sou aquilo que nunca fui, projeto inacabado de um
sonho que alguém sonhou, mas que não aconteceu. Chorem as plantas, os rios, as
rochas, por mim que nunca aconteci. Riam os mares, as florestas, as pedras da
calçada por mim que existo na curva de uma estrada inacabada.
Quem se esqueceu de escrever o meu destino? Quem
desistiu de me desenhar a vida? Quem me roubou os passos antes de os chegar a
pousar no chão?
E agora? Que faço com tudo o que trago comigo, este
saco de esperança, esta fé do que ainda
posso ser. Só preciso que o sol me brilhe um pouco e que o luar não me apague.
Que as ondas me levem até à costa e que os mares não
me afoguem. Só preciso que as flores me encham de primavera e que os espinhos não
me magoem. Que as margens do rio me sejam suave companhia sem estreitar ou
limitar-me o percurso.
Só preciso de ti para
melhorar os meus dias mesmo que
me escureças as noites. Quero ser o que nunca fui, o sonho progenitor tornado
realidade: a filha, a irmã, a mulher, a vida, a célula não degenerada, o ADN
imaculado.
Se há arquitetos no céu, que encontrem as linhas do
meu esboço. Se há criadores no universo que me moldem em verdade, sabedoria e liberdade.
Se há energias de atração que me tragam uma simples luz de farol mesmo que sem
nele haver um mar. Se há felicidade, que me encontre, espero-a, na morada do
meu viver.
Se me conceberam como projeto inacabado, que encontre a capacidade, a vontade, a possibilidade de me tornar a concretude nem que seja no corpo de gotas suspensas na curva completa do arco-íris.
Se me conceberam como projeto inacabado, que encontre a capacidade, a vontade, a possibilidade de me tornar a concretude nem que seja no corpo de gotas suspensas na curva completa do arco-íris.
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