Há
dias em que ao acordar apetece-me continuar a sonhar, a voar na liberdade do
azul estrelado. E nesses dias, as paredes parecem-me fronteiras, as portas
obstáculos a transpor para chegar mais longe.
Apetece-me
caminhar, caminhar sem parar, até à exaustão. Tenho sede de infinito, tenho
fome de horizontes. Sinto-me prisioneira na vida, cercada pela morte a minha e
a dos outros. Sinto que as constantes rotinas me encarceram, que as obrigações
me guilhotinam o ânimo. Então fecho os olhos e permito-me ser livre, permito-me
abrir as asas do pensamento e partir à descoberta do sol, não o que brilha
resplandecente bem alto no céu, mas o sol que me inebria a alma, que aquece
cada célula do meu ser.
De
repente, mergulho a pique na corrente do meu sangue e partilho-me com cada globo
vermelho deste rio tépido, seguimos na mesma descida, subida, por cada curva
abismal.
Numa
corrida cheia de perigos, mas também, cheia de esperança, pela certeza de que
não há meta mas sempre, continuidade. Uma continuidade que nos fortalece e
incentiva a fazer desta viagem a melhor viagem possível. Haverá sempre a
seguinte, sim, talvez seja verdade, mas nem por isso nos acomodamos. Temos de
tentar que cada uma seja sempre melhor que anterior, mais feliz a cada passo, a
cada onda que nos eleva e faz descer.
Depois
abro os olhos, saio desse instante de torpor, estou cansada e descansada, sei
que fui, sei que voltei, um suspiro solta-se do peito, navega-me até aos lábios
e esvoaça, deixo-o partir, não chego a invejá-lo na sua leveza e liberdade. Uma
liberdade que também é minha, a cada passo, a cada ideia, cada momento, só meu
ou partilhado.
Percebo
então que já não preciso de vastos espaços, de carregar as malas, de sair, posso simplesmente
permanecer, e nessa permanência, encontrar a forma mais elevada de voar a
felicidade porque na verdade, só tem paredes quem se aprisiona por elas, quanto
a mim, já não “tenho paredes, só tenho horizontes” (M. Quintana)
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