Escrever
é traduzir para um código convencional, o que vemos, o que sentimos. É plantar
nos outros a responsabilidade de se deixar tocar por cada semente de palavras
que ecoam dentro do peito.
Se
não germinar, talvez seja culpa de quem escreve por não ter escolhido a melhor
forma de oferecer cada partícula do seu sentir.
Talvez
seja culpa de quem lê por não ter em si desperto o código de sensações prontas
a reconhecer o outro quando ele se lhe oferece.
Talvez,
não exista uma culpa nem um culpado e simplesmente seja intraduzível o que
somos, o que sentimos, a forma como vemos o mundo à nossa volta.
Talvez
seja indizível a emoção que em certos grandes e pequenos momentos nos invade o
ser.
Talvez
seja inexprimível o deslumbramento monumental que sentimos perante a mais
pequena flor que nasce no solo mais árido e aparentemente do nada.
Talvez
seja inexpressável o momento fugaz em que a felicidade nos enche de plenitude.
Talvez
seja inexplicável a palavra que nos traça um rasto no caminho. Simplesmente, seguimo-lo,
na esperança de a encontrar, de a pronunciar, de a viver. E com ela descobrir o
sentido que nos faz continuar a escrever.
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