Gostamos
das pessoas tal como são? Não, na verdade, gostamos das pessoas tal como somos.
Inconscientemente queremos mudá-las para que se tornem “iguais” as nós, para
que nos completem, para que sintamos que nos vão sempre confirmar, apoiar, que
são a certeza em quem podemos confiar e que nunca nos vão desiludir.
Claro
que os argumentos desta inconsciência manifestam-se de outra forma, afinal, só
somos críticos porque “queremos o melhor” para as pessoas de que gostamos.
Queremos que andem com roupas apropriadas para não serem gozadas, que tenham
atitudes correctas para não serem excluídas. Não é por nós, nunca é, é
simplesmente por elas, em última instância pelos outros.
Porque
nós que somos amigos, aceitamos cada um como é, nas suas debilidades, nas suas
“tolices”, no que afinal não é defeito mas feitio.
Não
é isso que deve fazer um amigo? Alertar para possíveis problemas, evitar que se
magoem, amparar na queda, curar a ferida com o penso rápido do “eu bem que te
avisei”?
A
amizade, esse sentimento que gera múltiplas emoções é complexa.
Não
é por mal, (acho) somos assim. Entre as boas e as veladas intenções, amamos,
mas amamos de verdade. Magoamos, talvez, mas magoamos simplesmente para que não
sejam magoados e, simultaneamente, para não nos magoarmos.
E
neste estranho jogo psicológico temos amigos, somos amigos. Tentamos ser os melhores amigos e ter os melhores amigos. Aqueles com
quem nos identificamos. Aqueles que neles somos.
Mas
há um tempo, que nos ensina, que nos adoça, que nos faz perceber o fundamental.
E o fundamental não é que se iguala a nós mas o que nos enriquece nem que seja pela
diferença. Não há maior elogio do que gostar de alguém por ser como é.