Insónia,
velha amiga, companheira da longa caminhada das noites sem sonhos, só o tic tac
do relógio permanece rompendo o vago silêncio. Porque as horas têm o seu
próprio som e acompanha a melodia das estrelas, a toada madrugadora das aves, o
sopro murmurante do vento, a dança dos ramos daa árvores, do cão que ladra a
qualquer ameaça de invasão, do galo que confunde as horas, do gato que mia o
desespero de a todo o custo conquistar a gata que o rejeita. Do carro que chega
com roncos de motor cansado, vem de um longo turno de trabalho. Desse outro que
num som diferente estremece a noite com arrancos de quem foi literalmente
sonegado ao sono, quem sabe ao sonho dormente.
Insónia,
velha amiga, que histórias escreve a noite, de vidas que vêm vão e de outras
tantas que apenas estão inertes e confiantes que o amanhã chegará para o melhor
das suas vidas.
Acendo
a tv, mas nada da sua programação me prende a atenção, não me acomoda. Acendo o
rádio mas nem a sua música me aconchega, o mp 3 tem melodias que agora não me
apetece ouvir; ler, sim podia ser uma opção, tenho tantos livros em aguardando
a caricia de um olhar, o carinho suave dos dedos ao virar a página, mas dá-me
preguiça tirar as mãos para fora das mantas. Restam-me os pensamentos, que me
vêm em turbilhão como ondas gigantes de uma tempestade avassaladora, pouco a
pouco vão-se aquietando, e de mansinho vão-me embalando, e quase, mas apenas
quase me adormecendo. E nesse quase sono, por um instante vislumbro a portada
dos sonhos, eis que o relógio despertador toca, insiste, ignoro-o, mas ele
persiste. Que lhe importa o cansaço da noite não dormida, que lhe importa que
as minhas horas tenham sido contrárias à tranquilidade das suas. Cumpre a sua
missão como um soldado que ostenta a farda com estóica honra. Mais cinco
minutos atrevo-me a pedir…
Inflexível o relógio volta a repetir o seu toque
estridente, como se fosse uma implacável ordem, quando o paro, o silêncio volta
a envolver-me num abraço de esperança, “tem paciência, verás que logo à noite
dormirás estes 5 minutos e muitos outros, suspiro conformada, mas ainda com
forças para resmungar num sussurro, “pois sim, se a minha amiga insónia não me
vier fazer companhia.”