Sempre
quiseste voar e eu cortei-te as asas. Sempre quiseste sonhar e eu acordei-te.
Sempre quiseste amar e eu contrapus a razão. Sempre quiseste ser feliz e eu
apresentei-te a dura realidade. Sempre me deste o melhor de ti e eu fingi que
não te via.
E
apesar do teu querer e apesar do meu ser, sempre vivemos em quase e plena
harmonia, claro que tivemos as nossas discussões, as nossas guerras, lágrimas,
batemos com a porta, desistimos, quisemos partir, mas voltámos, voltamos
sempre. Tu cedias, eu aceitava. Então prometíamos cuidar um do outro,
respeitarmo-nos, cumpríamos…
E
é nesta relação ondulante de altos e baixos, de chuva e de sol que nos amamos,
que nos cuidamos, tu mais de mim do que eu de ti, é bem verdade, reconheço.
O
passar dos anos vai-me acalmando, dando outra visão de ti, de mim, de nós. Se
voltasse para trás, certamente voltaria a fazer tudo da mesma forma, está na
minha natureza, esta luta, esta incerteza, este racionalismo sentimental.
Continuaria a escutar a razão sem te ouvir a ti, coração. Mas tenho a certeza
que posso mudar o futuro, porque vou descobrindo em mim uma pessoa com mais traços
de ti.
Quando
me olho no espelho vejo o teu sorriso, o brilho do teu olhar. És cada vez mais
tu que me defines, sinto-te, escuto-te, amo-te. Sim amo-te, sabes bem como me é
difícil fazer esta declaração, fui sempre discreta, tímida, fria (dirás), mas
não era verdade, era medo, medo de me perder em ti, de me perder por ti, ficar
frágil, vulnerável, ferida, magoada ao caminharmos juntos pela mesma estrada.
Mas já não temo, descobri que só se é feliz quando se vive a vida por inteiro,
celebrando-a em todos os seus momentos: nos sucessos, e na superação dos
fracassos. Suspiras-me no peito, há quanto tempo me esperas, toda a nossa vida
passada e rejubilas por toda a nossa vida futura, agora que estamos finalmente
juntos.