Tive
a sensação que conheci a fronteira do mundo. Uma sensação que não foi feita de
luzes, de reencontros com entes perdidos, de paz de ou de guerra. Talvez não
tenha chegado tão perto, a essa transposição abismal.
A minha triste verdade é
que não senti nada, absolutamente nada, só a surpresa e a dúvida, ou melhor a
imensidão de dúvidas quando vi o resultado do exame e depois o vazio, como se
me tivessem arrancado, não da vida, da vivência da morte.
A médica sorriu,
encolheu os ombros, que importava tudo isso se continuávamos ali, correu mal,
sim correu, mas fora resolvido a tempo e mantido no segredo dos deuses.
Restavam as imagens, um testemunho estranhamente mudo, e o relatório de
procedimentos, uma injecção de adrenalina que paguei para nem sentir de olhos
abertos a sua sensação.
Foi como se tivesse comprado o bilhete para fazer body jumping e depois um outro compromisso me impedisse de
concretizar esse objectivo. Com uma vantagem, pelo menos tinha conhecido o
formigueiro da antecipação, neste caso, não senti nada, absolutamente nada,
puseram-me o coração aos pulos, abanaram-me os sentimentos, estremeceram-me o
passado, oscilaram-me o presente e abalaram-me
a estrutura do futuro, por um segundo,
um minuto, uma hora, não sei, apanharam-me a dormir e reescreveram-me o destino
e eu o tempo todo a dormir, a sonhar talvez....
Depois,
felizmente não me deu para encetar longas reflexões, sobre o que podia ter
perdido, o que podia ter feito diferente, para grandes mudanças, grandes
arrependimentos. Acordei nesse dia, continuei a acordar nos seguintes com o
mesmo espírito a mesma vontade de caminhar não necessariamente para a
fronteira do mundo mas para a fronteira da felicidade.