
Peço-te um direito que não tenho,
uma espera que não garanto que não seja
infinita. Gostava de apagar o rasto do meu caminho, para não me lembrar de cada
etapa em que me doeu mais o erguer do que a queda.
Espera por mim, talvez a
vida inteira. Ofereço-te a promessa de que sigo na tua direcção, que hei-de
chegar, se no final souber que estás lá para me receber. Não será fácil a
viagem, transporto demasiado peso na bagagem e, por mais que queira aliviar
essa carga não posso deitar fora o que fui, o que sou para um dia conseguir
verdadeiramente ser o que queres que eu seja. E no entanto ainda sorris
complacente, paciente, um sorriso de cada vez mais desvanecido, e nos socalcos
do rosto vejo escoar-se a juventude que me aguardou até esse dia que desejas
ser só teu, ou melhor só nosso.
Há quanto tempo me acompanhas sem que eu esteja
a teu lado? Demasiado, mas nunca consegui libertar-te de mim, e aprisionei-te
nesse laço de esperança que não desato. Não te vás, deixa-me entrar novamente,
se o teu coração ainda reconhecer o meu. Se lhe aceitares as marcas do seu
viver, dos caminhos que erradamente escolheu. Quando o meu caminho, reconheço
agora, devia ter sido sempre, feito do teu.