Espera
por mim, não te vás. Percebe que o meu coração já não voa
para te acompanhar. Que já não tem
forças para se elevar nas asas da fantasia. Entende que sou um despojo de uma
guerra que durou séculos de sentir. E hoje colando os retalhos da minha
história, sou pouco, muito pouco do que era.
Peço-te um direito que não tenho,
uma espera que não garanto que não seja
infinita. Gostava de apagar o rasto do meu caminho, para não me lembrar de cada
etapa em que me doeu mais o erguer do que a queda.
Espera por mim, talvez a
vida inteira. Ofereço-te a promessa de que sigo na tua direcção, que hei-de
chegar, se no final souber que estás lá para me receber. Não será fácil a
viagem, transporto demasiado peso na bagagem e, por mais que queira aliviar
essa carga não posso deitar fora o que fui, o que sou para um dia conseguir
verdadeiramente ser o que queres que eu seja. E no entanto ainda sorris
complacente, paciente, um sorriso de cada vez mais desvanecido, e nos socalcos
do rosto vejo escoar-se a juventude que me aguardou até esse dia que desejas
ser só teu, ou melhor só nosso.
Há quanto tempo me acompanhas sem que eu esteja
a teu lado? Demasiado, mas nunca consegui libertar-te de mim, e aprisionei-te
nesse laço de esperança que não desato. Não te vás, deixa-me entrar novamente,
se o teu coração ainda reconhecer o meu. Se lhe aceitares as marcas do seu
viver, dos caminhos que erradamente escolheu. Quando o meu caminho, reconheço
agora, devia ter sido sempre, feito do teu.