As palavras contam. As palavras falam, não só
no que dizem, não só no que escuta quem as recebe, quem as lê. Sobretudo porque
transportam dentro de si uma história e um modo de ver o mundo.
E quando pensamos que já não há mais nada
para dizer, elas dizem um pouco mais numa gota de esperança que faz renascer o
sorriso, que faz vislumbrar uma primavera onde o rigor do inverno queria permanecer.
Por vezes temos medo das palavras, das que
dizemos, das que calamos, das que ouvimos, das que lemos. Fazem-nos chorar por
dentro porque por fora são outras as palavras que inventamos para apaziguar o
momento.
Depois cresce um silêncio tão cheio de palavras
sem sentido, como se fosse necessário rescreve-las no peito para elas voltarem
a ser quem eram.
Hesitamos, esbarramos na dúvida: uma ponte
para atravessar e seguir outro destino, uma ponte de aproximação, não sabemos
se devemos calar as palavras, se engendrar outras novas, diferentes, que
cheguem mais longe do que as anteriores.
Descobrimos que o problema não está nas
palavras, que a questão não está no que elas dizem ou no que calam.
Então reconhecemos que é tempo de içar as
velas e deixa-las navegar ao vento, deixa-las partir na maré, porque as
palavras com que quisemos ancorar o coração já não encontram solo de vida onde
se fundear. Há um novo horizonte de palavras à espera para serem oferecidas e
certamente mares de maior bonança para as recolher.