Tenho
uma amiga, ou melhor tinha, melhor ainda, achava que tinha.
Daquelas
amizades modernas, daquelas em que não cruzamos o olhar, daquelas em que não
partilhamos sorrisos. Não há beijos na face, não há abraços, nem um ombro de
consolação. Uma amizade virtual, mas a que nos habituamos a sentir como real,
porque nos preocupamos, porque questionamos se está tudo bem, porque contamos
os nossos momentos, porque revelamos segredos que talvez não tivéssemos coragem
de revelar se estivéssemos frente a frente. Uma amizade sem receio de se expor
porque a sentimos efemeramente (eterna). Era uma amizade perfeita, à distância
de um clic, a decisão de estar ou partir estava na nossa mão quando
simplesmente carregávamos num botão acendíamos ou desligávamos a nossa
(amizade).
Imagino
que devem estar a pensar que a minha amiga era um robot, a (Sophia) que anda
por aí nos anúncios da televisão a falar com figuras VIP, um dia destes ainda a
vejo a conversar com o nosso 1º Ministro ou a abraçar o Presidente da
República. Mas não a minha amiga é humana, de carne e osso, humana no
sentir, no viver, no sofrer até no sorrir que não vejo mas leio, nas palavras
que escreve.
Ela anda por aí, na sua vida, por vezes, esporadicamente, até
na minha. Tem os seus compromissos, a sua profissão, a sua família. Vivemos no
mesmo país, sob o mesmo céu, o mesmo sol, o mesmo luar, separa-nos ou une-nos o
mesmo rio. Já temos um passado, já temos uma história, pequena como um conto que
um dia contaremos aos netos enchendo-a de detalhes imaginários para colmatar as
lacunas que sempre existem numa amizade virtual como a nossa.
Nessa altura,
encolhemos os ombros, sorrimos e desculpamo-nos, dizendo que a nossa memória que já não
é a mesma, coisas da velhice, acrescentamos com humilde ingenuidade.
Tenho
uma amiga, ou melhor tinha, porque uma amiga, que é amiga, ainda que virtual, ainda que distante, preocupa-se,
cuida da sua amiga, sobretudo quando ela está doente.
Talvez não a possa
visitar, dar-lhe um ramo de flores, uma
caixa de chocolates, mas pode enviar uns terabytes
de conforto, uns gigabytes de
aconchego, uns megabytes de estímulo
ou quiçá, até, um pequeno byte de alento.
Porque é essa oferta real ou virtual, é essa dádiva ao outro que nos diferencia
das máquinas e faz com que a amizade independentemente do meio como nos une e da distância, se
torne verdadeiramente real.
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