Um
dia pediram-me para escrever uma carta de amor, com toda a sinceridade tremi,
ou melhor temi, pensando que o meu
racional me iria impedir de o
fazer. Mas como em tudo, aceitei o
desafio, é a minha fraqueza, não conseguir resistir a um bom desafio. Sentei-me em frente ao computador, olhei para
o monitor, a imagem branca iluminada, não me iluminou a inspiração, como se ela
também estivesse vazia. Desisti, carreguei no botão e desliguei a máquina,
afastei o olhar desiludido do monitor agora preto como que acusador do meu
fracasso. Tentei distrair-me com a paisagem, deixei os pensamentos navegarem
por sobre as nuvens. Voltei a sentar-me, peguei numa caneta e num papel e,
decidida, espremi as emoções. Sim, escrevi uma carta de amor, linda, dizem…
Cheia de literatura, cheia de carinho, de mágoa, de queixumes, ingredientes de
todas as cartas de amor e que, por isso, costumam dizer que são ridículas.
Escrevi palavras com melodia, palavras com lágrimas, palavras que, tantas e
tantas vezes, em resposta, recebem o silêncio e morrem esquecidas no fundo de
uma gaveta ou rasgadas no cesto dos papéis.
Esta,
pouco me importava o seu destino, era apenas um desafio, não tenho jeito nenhum
para este tipo de escrita, voltei a pensar. Nunca escrevi uma carta de amor,
claro que já escrevi pequenos poemas, cartões para o Dia dos Namorados, eram de
alegria, de gratidão, de enaltecimento ao outro, mas uma carta de amor em que
revelamos o que o coração tem para dar e o que desejaria receber, nunca
escrevi, era ridículo, um pouco até humilhante de tanta abnegação, pensei.
Mas
assim que a terminei de escrever, pasmei, reconheci as suas linhas, a
sinuosidade acariciante das suas palavras, a quase lágrima, o quase sorriso, a
humildade, a dádiva, aquele abraço que se estende e aperta muito mais que os
simples braços, sim, já tinha escrito outras cartas de amor, muitas, aliás.
Cartas
de amor ao nascimento de novas vidas, cartas de amor a quem dela partiu, cartas
de amor às quatro estações do ano, à chegada das andorinhas, às chuvas de
Março, às ondas marítimas de Agosto, à queda das folhas em Setembro, aos teus
50 anos, aos vossos lindos 80, às Bodas de Ouro de um feliz casamento, ao sol e
à lua, à infinitude do horizonte, cartas de amor a Deus, cartas… à vida, aos seus momentos, do princípio ao seu
términos.
Sim,
é verdade, já escrevi “cartas, muitas, cheias de amor.
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