Agora tenho que medir regularmente a tensão arterial para aferir se aquele pique foi um episódio isolado ou se me tornei hipertensa, coisas de viver nesta vida, nesta sociedade, neste clima, nesta economia, nesta crise humana ou desumana.
Enfim, faz parte, começo a mentalizar-me, as peças avariam, os feixes entram em
colapso, o corpo em queda e a alma, quiçá, um dia em voou. Mas entretanto vou
cumprindo as ordens médicas, e medir a tensão é uma delas. Ora lá vamos nós,
tirar o aparelho da caixa, espera Polinho, já te mostro o que isto é, tira-te
da frente, porque senão nem eu consigo ver como isto funciona.
Então, colocar a
braçadeira no braço, no meu braço, Polinho não no teu focinho peludo. Não
espera, isto não é para roeres, ainda furas a câmara de enchimento. Ufa!
Consegui prender isto ao braço, foram quantas tentativas? Umas 10, mas quem
está a contar? Agora é encher com ar, carregar no botão (iniciar) e deixar a
máquina fazer o seu trabalho.
Não, Polinho era para ligar, não para desligar!
Ok, recomeçar, carregar no botão, desta vez o enchimento começou sem
interrupções. Começo a alegrar-me com o facto, mas, Polinho! Sai de cima do
aparelho, que apita ERRO, ERRO, ERRO!. Já ouvi, ó máquina, cala-te, ou melhor
desliga-te!...
Novamente,
respirar fundo, recomeçar… Iniciar, encher de ar e aguardar pelos valores lidos
da minha tensão.
Com
o braço direito imobilizado para fazer a medição, tento com o esquerdo segurar
o irrequieto Polinho que tenta saltar de novo para cima do medidor de tensão.
Tanto se mexe que lá consegue libertar-se da prisão do meu braço e aterra feliz
sobre o aparelho, este em angústia grita de novo, ERRO. ERRO. ERRO.
Desisto,
hoje não vou medir a tensão, mesmo que conseguisse iria certamente dar valores
demasiado altos. E o médico se os visse na consulta afogava-me em medicação:
hipotensores, calmantes, diuréticos, sei lá mais o quê.
Enquanto
eu, impávida e serena com o meu ar de (quase) infinita paciência,
perguntar-lhe-ia,
- Posso dar algum
deles ao meu cão?
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