Já estamos com um pé no mês do Natal, mas falar de Natal neste tempo, é-nos
doloroso, para uns mais do que para outros, para os que perderam familiares,
amigos, uns por questões de saúde, outros por acidentes, outros ainda nos
incêndios que avassalaram o nosso país, falar do Natal, talvez não faça sequer
sentido.
Mas
também será difícil falar de Natal para os que, perderam os seus bens fruto de
uma vida de trabalho, ou o seu único meio de sustento, nesses mesmos incêndios
ou em outras catástrofes naturais. Não esquecendo o mundo que nos rodeia, esse
universo de relações, que nos faz sentir cada vez mais próximo o perigo das
ameaças belicistas entre países que se radicalizam. Ou, ainda, para todos nós
que começamos a sentir as manifestações das alterações ambientais e o quanto
nos choca a falta de consciência dos poderes de decisão sobre esta questão.
Não
esquecendo os muitos, que por razões várias sentem que a dor quase supera a fé,
que nos rouba a alegria da festa, e
enche de penumbra o nascimento que deveria ser de renovada esperança.
Falar
hoje de Natal, abala-nos, confunde-nos, por tudo o que aconteceu e que nos
deixou tão pouco para agradecer nesta época.
Contudo,
talvez seja agora que o Natal deve ser mais sentido, mais reforçado, mais
unificado por cada um. Revelando a nossa capacidade de lutar para renascer das
cinzas e seguir em frente, construindo, ou reconstruindo os sonhos perdidos,
queimados, sonegados à nossa confiança.
Devemos,
por tudo isso, oferecer a quem mais precisa um Natal mais solidário, mais
humanitário. Devemos presentear cada
coração com um abraço. Oferecer a
cada dia uma semente de esperança.
Sairmos
da nossa “ilha” não lhe chamarei “indiferença” mas de rotineira “apatia” e darmos-nos aos outros em generosidade, em
partilha, em presença.
Este
ano, devíamos em vez de acolher o pinheiro em nossa casa, plantá-lo numa
floresta devastada, e ver surgir à volta do nosso, muitos outros.
Vamos
entrar no mês do Natal, vamos recebe-lo com carinho, ainda que a nossa alegria
esteja magoada, que sintamos a nossa alma vazia, vamos enche-la de fé e leva-la
a quem mais precisar. Que este Natal não
seja de presentes medidos pelo seu valor, mas que o seja pelo seu amor. Se o
Natal vos bater à porta, sejam generosos, deixem-no entrar…