Dedico-te
esta lágrima, sim, é triste, mas por ser triste não significa que seja mau.
Dedico-te esta lágrima, porque a mereces receber embrulhada num presente de
riso e ternura, tudo o que me foste, tudo o que me és, hoje, sempre. A beleza
das coisas, não desaparece, só porque algo ou alguém perece. A beleza é eterna
e termina apenas com a nossa finitude.
Dedico-te
esta lágrima, por todas a que me fizeste verter enquanto ria das tuas graças,
porque até mesmo as desgraças contadas por ti ganhavam contornos de comédia.
Continha-me em suspense, o momento, o assunto a isso o aconselhava, mas depois
rias e eu ria contigo.
Dedico-te
esta lágrima, adiada, apanhada de surpresa, fiquei estática, parou-se-me a
vida, o ânimo que lhe dava movimento e sentimento. Estava ali, mas não estava,
buscava-te em outros lugares, aqueles por onde navegámos, mas nem aí te
encontrei.
Quase
em desespero procurei-te nos lugares por onde sonhámos que um dia iríamos, mas
nunca chegamos a ir, quem sabe, agora, tenhas ido, sem mim.
Mas
não, de certeza que não estavas lá, como o sabia? Sabia-o porque estavas aqui, palpitando-me
no peito, mas, estranhamente, fisicamente, tão longe de mim.
É
ilógico pensar a vida sem te ter no caminho, às vezes apanho-me a marcar o teu
número, a pensar que te vou contar o que me aconteceu nesse dia. Disparatado,
talvez, mas ainda tenho longas conversas contigo. E chego até quase, ainda que apenas
quase, a ouvir-te rir dos meus medos, das minhas tolices, das minhas lamechices.
Por
isso, dedico-te esta lágrima, que não é chorada, que já não é sofrida, é uma
janela entreaberta que deixa escapar um suspiro em forma de gota de água, criei-a,
só para te a oferecer. Límpida, cristalina, parece um pequeno cristal
translucido, parece vazio mas se a olharmos bem para dentro dela está tão
replecta de mim, de ti, em cada memória que partilhamos.
Hoje,
sempre, com menos vazio, com mais carinho dedico-te, este sorriso…