Há
dores que precisamos de sofrer não por masoquismo mas para perceber a
felicidade que elas nos trouxeram. Controversa a ideia, afinal ninguém gosta de
sofrer, pelo menos voluntariamente. Mas a verdade é que quando olhamos para
trás contemplamos para essas dores com carinho, companheiras silenciosas dos
nossos passos, avanços e recuos.
Não nos deixam saudades, também é outra
verdade, mas deixam lições que aprendemos com dificuldade, por vezes com recusa
em encara-las, mas acabamos derrotados para um dia vencermos, dizem-nos vozes
amigas com palavras que nos acariciam a auto-estima.
Cada final por mais
doloroso que seja, pode significar uma nova oportunidade, mas quantas
oportunidades temos? Costuma-se dizer, que podemos ter uma segunda
oportunidade, prefiro acreditar que temos todas, todas as que nos surgirem,
todas as que construirmos, todas as que estejamos despertos e recetivos para
elas. A vida está cheia de oportunidades, estão algures à nossa espera,
desencontramo-nos de umas, mas há sempre outras para serem encontradas.
Claro
que por vezes nada faz sentido e sentimos o destino perdido. Então paramos,
tentamos encontrar o rumo da nossa história. F. Pessoa dizia que “somos autores
da nossa história” e cada vida pode, talvez acrescentar; estamos de mão suspensa no tempo à espera de escrever o nosso futuro.
O
sol brilha, é bonito, enche-nos de luz e de energia, de sorrisos, de planos
para o convite do dia em ser plenamente vivido, sim; mas o sol também queima,
magoa-nos a pele, encandeia o olhar. A noite é escura, mesmo nos dias de luar,
a escuridão é má conselheira com ela tudo nos parece maior e mais doloroso
nada, mas só na escuridão conseguimos ver as estrelas. Porque nada mas mesmo
nada é inócuo de bom e de mau, é preciso em cada situação, em cada ferida
aberta, encontrar a medida certa, o equilíbrio, a harmonia para a receber, para
a curar, para a tornar menos dor e mais, cada vez mais, amor.
E
lá volto a “ouvir” as palavras de Pessoa “Pedras do caminho? Guardo todas, um
dia vou construir um castelo”, tantos castelos que vejo por aí, alguns tão
majestosamente erguidos, outros ainda em construção. Quero acreditar que o meu,
um dia, terá a dimensão manifesta de tudo o que sou, espero, então, sentir-me
grata por cada uma dessas pedras, reconhecendo a sua, talvez dolorosa ajuda,
para criar o caminho que me trouxe até ao
que sou.
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