As
pessoas surpreendem-nos, chocam-nos, magoam-nos. Foi assim que reagi, com um
destes sentimentos, talvez o menor, porque as notícias foram-me dadas a conta-gotas,
como um medicamento que começamos com uma dosagem baixa, por não sabermos quais
os seus efeitos secundários, só sabemos os sintomas da doença enquanto que os
do tratamento, podem por vezes ser piores antes de começar a melhorar, antes de,
com sorte, curar.
Não
soube como reagir, afinal já passaram 2 anos desde o acontecimento, mas soube-o
agora, magoou-me neste exacto momento,
não como se tivesse passado tanto tempo, mas como se as palavras carregadas de
hediondas expressões fossem neste preciso instante proferidas.
Não sei como reagir, zangar-me? Não parece ter
sentido, nem sequer merece apena, pelo acontecimento e pela pessoa em causa.
Acho
que vou deixar passar outros tantos anos, talvez 20 e no entretanto, esquecer.
Afinal já não faz sentido, aliás nunca fez, coisas que se dizem simplesmente
porque as pessoas são pouco confiáveis, tanto as que por alguma razão que não
compreendo, resolvem inventar coisas sobre nós, com até as outras que 2 anos
depois resolvem contar essas “verdades”.
O
tempo e a erosão pessoal de cada um acaba por conferir a tudo outra dimensão,
acrescentando-lhe um ponto, que se torna um conto, mistura inflamável de
fantasia e rancor.
As
pessoas, são com que rios com águas, umas mais pacíficas, outras mais
turbulentas, nem sempre chegam a formar tempestades, apenas insignificantes
ondas de baixa auto estima que vão expandindo em círculos de má energia.
Magoa-me
porque deixo que me atinja no peito aberto e sem defesas, no sentimento crédulo
de que as pessoas são necessariamente boas. Esqueço-me, demasiadas vezes, que
as pessoas são o que são e que reagem por instinto básico às suas necessidades
de sobrevivência.
Magoa-me
não perceber a sua dimensão, o seu mundo de interesses, a sua cadeia de
conveniências.
Mas
também há surpresas, porque se me deixo magoar pelo inesperado, às vezes
acontece o imprevisto, a humildade, a solidariedade, a credibilidade, por isso
e apenas por isso, aceito as mágoas e faço delas um passo em frente. Tudo é
caminho, as flores e os espinhos, o sol e a chuva, o cair e o levantar, o rir e
o chorar, as chegadas e as partidas. Tudo é caminho acompanhados ou sozinhos, o
importante é que nós sejamos a nossa mais agradável companhia.