O
que fica do Natal? Por vezes pouco mais que caixas de cartão rasgadas, de papéis
coloridos estilhaçados, de brinquedos velhos deitados para a rua porque os
novos tomaram o seu lugar. As luzes das ruas que se apagam, o pinheiro arrancado
da terra jaz sem raízes tombado nos recantos da cidade. As pessoas voltaram a
olhar apenas para o caminho e já não uns para os outros.
O
Natal acabou, temo mesmo dizer que em alguns lares, em algumas vidas Ele
simplesmente não aconteceu, porque embora tenham cumprido o seu ritual de
compras, de troca de prendas, ou enfeitar da casa e da mesa, não receberam nos
seus corações. Limitaram-se a “ir na onda”, a procurar satisfazer vontades
próprias. Foi apenas uma festa, à qual faltou o festejado. A história de um menino
que nasceu em Belém, torna-se longínqua, ténue na lembrança, coisas de criança,
dizem. Agora é mais o Pai Natal e todos sabem que ele não existe, que não desce
da chaminé nem recompensa os meninos bem comportados. E depois, já nem somos
meninos, somos adultos, temos deveres, muitos, cada vez mais deveres. Sufocamos
nos impostos, perdemos-nos nas burocracias, consumimos-nos nas rotinas de um ano
inteiro e depois chega a um dia em que é Natal e querem, ou melhor esperam de
nós, que sejamos apenas humanos, que revelemos a verdade do que somos, a
criança que ensinámos a não chorar, a lutar para vencer e conquistar o seu
lugar ao sol.
Não
é fácil, tentamos, despimos cada camada defensora com que vestimos os dias, com
que revestimos de apatia os meses e revelamos pouco a pouco, com receio de cada
olhar mais crítico, a nossa alma pura e ainda crente na humanidade, sociável,
solidária, tolerante, generosa, capaz de erguer presépios em cada lar, de
aquecer com amor as palhinhas de um menino que embalamos e que nos embala o
coração.
Porque
apesar desencantamento do Natal, do consumismo, da tecnologia, da cibernética,
etc, etc., algures em nós há um Natal ansioso por nos nascer e se manifestar,
na maior parte das vezes só surge em Dezembro, mas a história está replecta de
Natais que acontecem quando menos se espera, quando alguém sorri para o outro,
quando lhe estende a mão, quando partilha a sua sorte com quem não a tem.
Heróis do nosso tempo, Pais Natais que nos chegam sem ser de trenó, Menino
Jesus que se aconchega dentro de nós para se revelar na ocasião em que mais
seja necessário e nem sequer precisa de ser Dezembro, basta apenas que seja
Natal em qualquer momento do ano.
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