sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Post.it: As rosas de Malherbe

Apenas o momento basta, esse, onde cabe todo o tempo do universo numa só sensação, numa só emoção. Quando se vive uma vida inteira em busca do que nos completa, do que nos torna seres melhores. Quando se vive na esperança de se ser feliz, uma felicidade que seja eterna, numa eternidade sem tempo exacto, uma vida, um ano, um dia, o tempo de ser como as Rosas de Malherbe que só vivem (uma breve manhã). 
Mas mesmo que sendo curta a felicidade,  parece ainda assim difícil da encontrar, para muitos impossível de alcançar, de conhecer. Resta o sonho, resta a espera, resta a vida nas suas marés de mares que elevam ou afundam, que libertam e sufocam. Restam as primaveras coloridas, restam as rosas, mais duradouras que as Rosas de Malherbe. No entanto  o nosso olhar, por vezes tão ávido de paisagens longínquas, passa sem ver a beleza do que nos está perto. A felicidade que está no mais simples gesto, no mais doce rosto, no mais terno sorriso. Que nos surge escondida no silêncio e nós não o escutamos, não sentimos de tão inundados que estamos de palavras vazias à espera que se encham do que queremos escutar. 
Quando bastava todo o tempo perdido, todos os momentos esquecidos, tudo o que distraídos não observámos, tudo o que desvalorizamos, tudo o que diminuímos, tudo o que não quisemos por ser pouco para o tanto que ambicionávamos ter. Acabamos tantas e tantas vezes por termos tudo e continuamos a lamentar o que não temos. 
Se ao menos fossemos simples Rosas de Malherbe aproveitando, vivendo a longa e terna manhã, ensolarada de chuva,  inundada de luz, com ventos que nos dançam suaves nos cabelos e tudo o resto fosse um suspiro feliz de quem inspirou a emoção de ter vivido.


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